quinta-feira, 26 de março de 2009

Evo Morales- O Pequeno Heroi.

O artigo saiu da Folha, foi reproduzido aqui e acolá e faço o mesmo tambem.Cabe como rapida reflexao para a atemporalidade do livro Veias Abertas da America de Eduardo Galeano.Aqui o pequeno principe plebeu,Evo Morales, presidente do mais indigena pais de la Sudamerica,Bolivia- principe por sua etiqueta tão proprias, possivel?- Sim,na terra onde as classes pseudamente mais informadas e mais desintonizadas com o que tange à grossa parte da população e seu cotidiano, ressaltam que o modelo eurocentrico é o ideal.E vira e mexe repetem o que o Monarca Espanhol disse ano passado a Hugo Chavez "Por que no te calas?"...sou latino, e para me calar não será fácil.

Dá lhe Evo neLLes!

O pequeno herói

Luiz Carlos Bresser-Pereira
Folha de S.Paulo


Estou hoje convencido de que há um pequeno e admirável herói na política mundial: o presidente da Bolívia, Evo Morales.

EXCEÇÃO feita das histórias juvenis, os heróis são raros. Em um mundo materialista no qual o neoliberalismo ensina que a única motivação humana é o auto interesse, ninguém está disposto a reconhecer os heróis -os homens e as mulheres que têm a coragem de agir de acordo com seus ideais humanos e cívicos arriscando sua vida para enfrentar a violência das forças naturais e principalmente a ganância dos poderosos. Quando os reconhecemos, isso decorre de uma ação isolada -de alguém que, em certo momento, salva uma criança da morte ou, como o piloto americano, amerissa com sucesso no rio Hudson e salva 150 passageiros.

Neste mundo desencantado em que vivemos, porém, a última coisa que nos dispomos a reconhecer é um político herói. Podemos até admitir que determinado político seja um estadista, mas um herói... Nosso modelo de herói é o de Davi enfrentando Golias, e é difícil pensar em um político -alguém dotado de poder- como um Davi.

Não obstante, eu estou hoje convencido de que há um pequeno e admirável herói na política mundial: o presidente da Bolívia, Evo Morales. Não estou seguro de que ele terá êxito em sua missão -a de criar uma democracia social na Bolívia- porque é muito difícil governar democraticamente países pobres e, ainda por cima, divididos em termos étnicos -e aquele país sofre dos dois males. Em países pré-industriais, como a Bolívia, a apropriação do excedente econômico não se realiza principalmente no mercado, mas por meio do controle direto do Estado, de forma que as oligarquias locais estão sempre dispostas a derrubar governantes que não se amoldem a elas. Para eles, a solução mais simples é aderir aos poderosos locais -aos proprietários de terras "brancos" de Santa Cruz e Beni- e aos países poderosos ao seu redor: o Brasil e os Estados Unidos. Com algumas exceções, foi isso o que os presidentes bolivianos fizeram no passado, esquecendo-se dos índios e dos pobres, que são a grande maioria. Assim, não promoveram nem o desenvolvimento econômico nem a diminuição da desigualdade, e vários nem sequer conseguiram evitar que fossem derrubados.

Morales não se deixa atemorizar.

É o primeiro presidente índio eleito na Bolívia e tem mostrado coragem para ser fiel ao seu mandato. Em seguida à sua eleição chegou a ser ameaçado pelas elites dos Departamentos mais ricos e menos povoados por índios, porque desejava definir uma nova Constituição para seu país. Em certo momento, avançou o sinal e tentou aprová-la com maioria simples -o que deu argumentos à oposição conservadora.

Para resolver o impasse, buscou negociar e aceitou arriscar a revogação de seu mandato presidencial em um referendo. Ganhou-o com 67% dos votos -o que não impediu que os governadores dos Departamentos mais ricos continuassem seu movimento separatista. Agora, a nova Constituição foi referendada por quase 60% dos eleitores, mas as elites locais já exigem sua revisão.

Morales teve também a coragem de nacionalizar a exploração e o refino de petróleo -o que causou a ira de nossas elites, que, de repente, tornaram-se nacionalistas. Felizmente, o presidente Lula as ignorou. Mas o nosso pequeno Galahad enfrentará ainda muitos obstáculos. O graal não existe a não ser para os heróis.

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