terça-feira, 7 de abril de 2009

Os equivocos do PSDB :em resposta ao Vice Governador de SP quanto a sua pedancia em relaçao ao Partido dos Trabalhadores

PT sempre 13!
Trabalho,Terra e Liberdade

Os equívocos do PSDB

Valter Pomar

Alberto Goldman, vice-governador de São Paulo, escreveu um artigo criticando a resolução política aprovada pelo Diretório Nacional do PT no dia 10 de fevereiro. O artigo de Goldman foi publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, no dia 5 de abril.

Desconheço se existe uma resolução do Diretório Nacional do PSDB acerca da crise internacional, seus desdobramentos no Brasil e sua influência nos debates da sucessão presidencial.

Assim, fico sem um parâmetro essencial para saber se a resolução do PT, de cuja redação e aprovação eu participei, é mesmo (como afirma Goldman) “simplista”; ou se o adjetivo é apenas um cacoete típico da arrogância com que os tucanos qualificam qualquer coisa que não tenha origem em suas “mentes brilhantes”.

Fiquei com a impressão, entretanto, que Goldman não leu com atenção a resolução que critica. Se tivesse lido, teria percebido que antes da constatação –ademais, óbvia— de que estamos “diante de uma crise do sistema capitalista como um todo, na forma neoliberal que assumiu nos últimos 30 anos", há uma descrição e uma análise que o vice-governador tucano não questiona.

Pior ainda: Goldman critica algo que o texto do PT simplesmente não diz, a saber, que esta crise “significa um tiro de morte no sistema de produção capitalista”.

Insisto: a resolução aprovada pelo Diretório Nacional do PT não afirma, não insinua, não sugere, em nenhum momento, em nenhuma passagem, em nenhum trecho, que esta crise seja “um tiro de morte” no capitalismo. E, ao contrário do que diz Goldman, o documento do PT apresenta propostas concretas e imediatas para enfrentar a crise, inclusive “reformas radicais e urgentes dos organismos econômicos e financeiros multilaterais” .

Seria cômodo acusar Goldman de mentiroso, pura e simplesmente. Mas talvez seja mais útil tentar entender por qual motivo ele critica com tanta ênfase algo que não está no texto aprovado pelo PT.

Arrisco duas explicações: primeiro, o documento aprovado pelo Diretório Nacional do PT reafirma a orientação socialista do Partido, orientação que a crise torna ainda mais atual. Segundo, ao nos acusar de estúpidos, Goldman desvia a atenção da estupidez tucana.

A profunda hegemonia do capitalismo, hoje, é exata e somente isto: um fato. Deste fato não deriva, como pensa Goldman, que o capitalismo seja eterno, que a sociedade humana seja incapaz de organizar de outra maneira a produção e a distribuição das riquezas, que o socialismo tenha se tornado inviável.

Se não for pedir demais, recomendamos a Goldman que leia a resolução do 3º Congresso do Partido dos Trabalhadores, especialmente o capítulo “socialismo petista”, onde está uma síntese do que defendemos. Um socialismo cujos “principais traços” incluem: a mais profunda democratização; um compromisso internacionalista; o planejamento democrático e ambientalmente orientado; a propriedade pública dos grandes meios de produção.

O fato de reafirmarmos nossa defesa do socialismo, não significa que acreditemos que esta crise é “um tiro de morte” no capitalismo, nem que ela necessariamente vai “apressar a transição” para uma sociedade socialista.

Muito ao contrário de qualquer fatalismo, longe de qualquer otimismo de Poliana, a resolução do PT fala o seguinte:

a) “assistimos a uma disputa entre diferentes projetos: forças conservadoras, progressistas e socialistas competem para definir o desenho do mundo pós-crise”;

b) é necessário “impedir que a crise jogue o país na recessão; mais do que isto, é preciso transformar a crise numa oportunidade para acelerar a transição, já iniciada pelo governo Lula, em direção a outro modelo econômico-social” ;

c) “a vitória do projeto progressista e de esquerda dependerá, em grande medida, da articulação do campo democrático-popular e da construção de um programa para o próximo mandato presidencial, que articule o que fizemos desde 2003 com nosso projeto democrático-popular de horizonte socialista”.

Nós não causamos a crise. Nós não comemoramos a crise, que do ponto de vista imediato causa impactos sociais e econômicos negativos para a maior parte do povo, a começar pelo desemprego. Nós não agimos como os tucanos, que torcem pelo agravamento da crise, na perspectiva de colher dividendos eleitorais em 2010. Nós não nos acovardamos frente à crise, que comprova o acerto das mudanças que estamos fazendo no país e que precisamos aprofundar.

É impressionante que o vice-governador, ex-comunista, tenha se tornado mentalmente tão conservador, a ponto de criticar inclusive isto: que uma crise seja, ao mesmo tempo, risco e oportunidade.

Aliás: se esta crise oferece também oportunidades para o Brasil, é exatamente na medida em que o governo Lula não seguiu a “trilha aberta pelo governo FHC”. Pois esta trilha, falemos com clareza, conduzia à privatização dos bancos públicos e à implantação da Área de Livre Comércio das Américas, para ficar apenas nestes dois exemplos.

Olhando ao revés: as dificuldades que temos, para enfrentar esta crise, originam-se exatamente da herança maldita do governo anterior, daquilo em que ainda não conseguimos romper com a “trilha” seguida por FHC. Por exemplo: o peso da especulação financeira e a legislação que contém os investimentos públicos.

Esta herança ainda é forte, exatamente porque os neoliberais ainda têm enorme força política. Aliás, que curioso: Goldman atacou coisas que não estão na resolução do PT. Mas não se deu ao trabalho de negar que os tucanos são neoliberais.

Pelo menos nisto, pensou mais como ex-comunista do que como anti-comunista, figurino que ele veste quando busca desqualificar quem acha, como nós do PT, que é possível e necessário construir outro tipo de sociedade, que não esteja submetido a crises periódicas causadas por um modo de produção que se organiza em torno do lucro e da exploração.

Valter Pomar, secretário de relações internacionais do PT


Os equívocos do PT

ALBERTO GOLDMAN
Eis a minha contribuição ao debate ideológico. Estou convicto de que a sociedade brasileira deve travar esse debate para 2010

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A RESOLUÇÃO política do Diretório Nacional do PT de 10/2, que se propõe a analisar a crise econômica internacional, seus desdobramentos no Brasil e sua influência nos debates da sucessão presidencial é um documento que, além de simplista, é revelador.

Nele o PT se recusa a fazer a análise de maneira profunda, preferindo sentenciar: "Estamos diante de uma crise do sistema capitalista como um todo, na forma neoliberal que assumiu nos últimos 30 anos". É isso mesmo?

O mundo experimentou de 2003 a 2007 o mais intenso ciclo de expansão econômica da história, e o Brasil se beneficiou da globalização da economia mundial, com bem menos eficiência, é verdade, que países como China, Índia, Coreia do Sul e Rússia.

É fato, porém, que o sistema capitalista sofre crises cíclicas e que a atual foi precipitada pelos riscos assumidos pelos mercados financeiros e agravada por deficiências na regulamentação das suas atividades exercida pelas agências governamentais de controle.

Agora, acreditar, como faz o PT, que a crise significa um tiro de morte no sistema de produção capitalista é uma aposta que não possui nenhuma aderência à realidade. Mesmo porque inexiste hoje no mundo qualquer alternativa de organização do sistema econômico que não nos moldes da economia de mercado, com graus diferenciados de intervenção estatal -não só necessária como legítima.

Diferentemente do que pensa o PT, a superação da crise, dada sua profundidade e seu alcance, passa por uma reforma profunda das atividades financeiras em escala global e na redefinição de atividades econômicas nos países desenvolvidos, rompendo-se as cadeias de subsídios e ineficiências explicitadas por ela.

Ao PT, que se coloca como arauto de um projeto de "horizonte socialista", exaltado na resolução, cabe a reflexão, ainda que tardia, sobre o desaparecimento no final do século passado dos regimes socialistas e comunistas do Leste Europeu. O que o PT pretende alcançar? Qual é o outro modelo econômico-social de que fala o PT?

É a volta à economia centralizada e seus mirabolantes e ineficazes planos quinquenais, com a presença esmagadora do Estado? É a instituição do regime político de partido único a conduzir todas as atividades político-econô micas? Ou é a simples troca de um projeto de nação por um projeto de poder, conforme denunciou Frei Betto em recente entrevista?

Encontramos na resolução petista a seguinte afirmação: "Os neoliberais que nos antecederam no governo do Brasil, que ainda governam Estados brasileiros e cidades muito importantes, que têm forte presença no Congresso Nacional (...)". Ora, ora, ora, se não são os vícios de uma esquerda de pensamento antidemocrático se manifestando na expressão "ainda".

Como se as conquistas do recente processo de democratização do país -o pluripartidarismo e a convivência de vários partidos no comando de Estados e municípios- fossem uma excrescência, e não a normalidade da vida democrática, e como se ao governo Lula se opusesse apenas uma corrente do pensamento político nacional.

Ora, ninguém minimamente lúcido, no Brasil ou no mundo, deseja uma recessão econômica. Os empresários porque, com ela, perdem muito dinheiro, e os trabalhadores porque perdem o emprego. Logo, a luta contra a recessão não é um privilégio petista. Agora, afirmar que a crise pode apressar a transição para o tal horizonte socialista, conforme afirma a resolução, não passa de delírio.

Se o governo Lula seguiu uma direção correta, foi ter-se mantido na trilha aberta pelo governo FHC de controle da inflação, responsabilidade fiscal, aumento da participação da iniciativa privada nos projetos de infraestrutura e fortalecimento do sistema financeiro nacional.

Mas batizar com novos nomes programas em andamento (o PAC é isso) ou assumir como sua a criação de projetos gestados no passado pode funcionar no campo da propaganda, mas não esconde a verdade: o que o governo Lula tem de melhor foi e é a continuidade -em uma fase de grande desenvolvimento da economia mundial, que se iniciou em 2003 e durou até 2008- de esforços do governo anterior, algo que o governo Lula se recusa a reconhecer. Até quando vão fugir das responsabilidades com as dificuldades por que passa o país?

Eis aqui a minha modesta contribuição ao debate ideológico. Estou convicto de que a sociedade brasileira deve travar esse debate para 2010 e optar entre um projeto de poder de exclusividade de um grupo político ou um projeto de país com foco na justiça social, comprometido com a ampliação dos espaços democráticos e de cidadania.


ALBERTO GOLDMAN, 71, engenheiro civil, é vice-governador do Estado de São Paulo. Foi ministro dos Transportes (governo Itamar Franco) e secretário da Administração do Estado de São Paulo (governo Quércia).

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