Vamos então ao debate ideológico, senhor vice-governador Goldman
Dizendo-se estar convencido que a sociedade brasileira precisa travar o debate ideológico com vistas ao pleito presidencial de 2010, o vice-governador do estado de São Paulo, engº Alberto Goldman, avançou alguns conceitos, como contribuição sua a esse debate, em artigo publicado recentemente na Folha de S. Paulo. Faz muito bem o sr. Goldman, importante figura do PSDB, em assim agir. E como consideramos crucial este enfrentamento ideológico, trazemos também a nossa colaboração.
As pessoas mudam ao longo da vida, é normal. Muda a cabeça, mudam as circunstâncias, mudam os métodos. E muitos mudam de lado. O vice-governador é hoje um bravo defensor do capitalismo em sua atual fase neoliberal. Segundo ele “o sistema capitalista sofre crises cíclicas e que a atual foi precipitada pelos riscos assumidos pelos mercados financeiros e agravada por deficiências na regulamentação das atividades exercida pelas agências governamentais de controle”. Ou seja, bastam alguns remendos que tudo volta à normalidade. E acrescenta “ a superação da crise ... passa por uma reforma profunda das atividades financeiras em escala global e na redefinição de atividades econômicas nos países desenvolvidos, rompendo-se as cadeias de subsídios e ineficiências.”
A visão dos socialistas é outra, sr. vice-governador: a crise não se resolverá com medidas administrativas ou técnicas. A crise está umbilicalmente atrelada ao sistema capitalista de produção e distribuição, com todas as suas terríveis consequências. Achamo-nos diante de uma crise geral capitalista, de magnitude comparável àquela que estalou em 1929 e à chamada ‘Grande Depressão’ de 1873-1896. Uma crise integral, civilizacional, multidimensional, cuja duração, profundidade e alcance geográfico seguramente haverá de ser de maior envergadura que as que a precederam.
Suas causas estruturais são de crise de superprodução e ao mesmo tempo de subconsumo. Não por acaso estalou nos Estados Unidos, porque este pais há mais de trinta anos vive artificialmente da poupança externa, do crédito externo e isto tem limite: as empresas financeiras e industriais se endividaram acima de suas possibilidades; o Estado também se endividou acima de suas possibilidades para fazer frente a duas guerras sem aumentar os impostos; os cidadãos são sistematicamente estimulados, por meio da publicidade comercial, a endividar-se para sustentar um consumismo exorbitante, irracional, perdulário e desperdiçador.
O sr. Goldman acusa a resolução política do Diretório Nacional do PT de 10 de fevereiro de simplista e de se recusar a fazer uma análise profunda da realidade. A par de reveladora da arrogância dos tucanos, a acusação afronta os fatos. A resolução, apesar de não ser um ensaio de economia política, dedicou dez parágrafos, quase mil palavras ao exame da situação econômica internacional. Defendendo desabridamente que o mundo experimentou de 2003 a 2007 – percebam como fez coincidir com o início do mandato de Lula - o mais intenso ciclo de expansão econômica da história, tendo o Brasil se beneficiado da globalização da economia mundial, porém com bem menos eficiência que outros países, o dirigente tucano pinçou a frase da Resolução:
“Estamos diante de uma crise do sistema capitalista como um todo, na forma neoliberal que assumiu nos últimos 30 anos” e desafia. “É isso mesmo?”
É exatamente isso, sr. Goldman. E a Resolução foi precisa em responder antecipadamente a sua provocação. Cito textualmente: “A economia neoliberal se caracterizou por um novo processo de concentração de renda nas camadas mais ricas e pelo estímulo ao consumo das camadas mais pobres e das classes médias através do sistema financeiro, que lhes emprestava recursos impagáveis; por deixar a regulação da economia nas mãos dos agentes privados do mercado, em especial os grandes bancos, as grandes corporações e os grandes especuladores; pelo enfraquecimento do papel do Estado, retirando-se da regulação da economia e dos investimentos produtivos e sociais; pela onda de privatizações que pôs em mãos privadas setores estratégicos da economia; pela imposição da liberdade de comércio internacional, ao mesmo tempo em que se mantinham medidas protecionistas no território dos países mais ricos.” Que tal, sr. vice-governador? Nada simplista e suficientemente concisa e profunda.
O octanato tucano foi marcado pelo enfraquecimento do Estado, pelas privatizações, pelo desemprego, pela desigualdade social, pelo arrocho salarial, pelo desconhecimento e criminalização dos movimentos sociais, pelo agravamento da segurança pública, pela deterioração do ensino e da saúde pública. Neste período prevaleceram no cenário político e econômico as forças conservadoras e neoliberais que implementaram no Brasil as mesmas políticas que estão na raiz da crise mundial em curso, tão estoicamente defendidas pelo sr. Alberto Goldman.
Cabe ressaltar ainda duas passagens do artigo que dizem mais respeito a um aspecto ideológico e a uma verdade histórica, que o vice-governador, por sua formação, não poderia ignorar e que estão a merecer rigoroso reparo. O sr. Goldman escreve que “acreditar, como faz o PT, que a crise significa um tiro de morte no sistema de produção capitalista é uma aposta que não possui nenhuma aderência à realidade.” É falso atribuir isto à direção do PT, porque seus membros não são néscios o bastante para desconhecer que o capitalismo não cai por si só e não pode ser derrubado se não existe uma força social que o faça ruir. Esta força não está presente sequer nas sociedades mais desenvolvidas, inclusive os Estados Unidos.
Em outra passagem diz que “ao PT, que se coloca como arauto de um projeto de ‘horizonte socialista’ ... o que o PT pretende alcançar? Qual é o outro modelo econômico-social de que fala o PT? É a volta à economia centralizada e seus mirabolantes e ineficazes planos qüinqüenais com a presença esmagadora do Estado?” Sr. Goldman, qualquer estudante de História sabe que há uma distância abissal entre a realidade objetiva e subjetiva da Rússia do começo do século XX com a realidade do Brasil do princípio do século XXI. Portanto, ainda que o PT quisesse, não conseguiria, nem por milagre, reproduzir aquela realidade. Parodiando o velho Marx, repeti-la seria uma farsa. Quanto aos planos qüinqüenais, reconhecem todos os historiadores econômicos sérios, o 1º Plano Quinquenal (1928-1932), longe de ter sido mirabolante e ineficaz, tirou a URSS, apesar do alto custo humano, do enorme atraso econômico com taxas anuais de crescimento superiores às dos Estados Unidos do final do século XIX e começo do século XX, e que o 2º Plano Quinquenal (1933-1937) lançou nada menos que as bases materiais para enfrentar e derrotar, ao preço de milhões de denodados combatentes, a máquina de guerra nazista na Segunda Guerra Mundial.
O confronto em 2010 será entre duas visões e dois projetos absolutamente distintos. As forças de esquerda e do progresso querem um Estado forte, capaz de ordenar e planejar e um projeto que continue reduzindo a desigualdade social e as disparidades regionais, que gere emprego e distribua renda, que universalize a educação, a saúde e a seguridade social públicas, que aja no combate eficaz ao crime, que trabalhe pela democratização dos meios de comunicação, que prossiga em sua política externa independente, em defesa da soberania nacional e da autodeterminação dos povos, da integração da América Latina e em prol da solução negociada, pacífica e justa dos conflitos internacionais. O povo brasileiro não vai permitir volta ao passado.
Max Altman
13 de abril de 2009
PT sempre 13!
Trabalho,Terra e Liberdade
Shana Tova 5772
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Shana Tova pai! setembro 2011
http://www.youtube.com/watch?v=kPakullI1_o
Uma ponte entre as divisoes de dois horizontes distantes...
yaha sheli, Silvana...
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