segunda-feira, 20 de abril de 2009

Max Altman: A metafora da gente branca de olhos azuis.

“Essa crise não foi gerada por nenhum negro, índio ou pobre. Essa crise foi feita por gente branca, de olhos azuis.” Estas 21 palavras foram pronunciadas pausadamente pelo presidente Lula em coletiva de imprensa ao lado do primeiro-ministro da Inglaterra, Gordon Brown. Todo mundo viu pela televisão.

Aos que fingem não entender a metáfora “gente branca de olhos azuis”, por Max Altman
Colunistas alvoroçados trataram de enxergar nelas uma ponta de preconceito ou discriminação racial às avessas. Nada disso. A grande imprensa local e internacional tratou de difundir que as expressões de Lula causaram constrangimento às autoridades britânicas. É bem provável. E que diante de tão altos dignitários mancharam a honra e a credibilidade do país além de cobrir o governo brasileiro de vergonha. É o que eles especulam.

Na verdade, a metáfora de Lula, de ínfimos 21 vocábulos, vale mais que um daqueles grandiloquentes e loquazes manifestos. Vou mais além: é a síntese moderna de um tratado de sociologia e política que as massas entendem e que define claramente os lados em disputa no atual cenário internacional.

Hipérbole? A imprensa internacional deste domingo, 29 de março, traduziu à perfeição a “gente branca de olhos azuis”. O conceituado The New York Times, nos dias que antecedem o G-20 de Londres, abriu manchete para a sua longa análise: ‘Capitalismo anglo-americano em julgamento’ Alertou que Obama vai enfrentar um mundo desafiador. “Os americanos viajavam por Brasil, India, China dando lição de moral sobre a necessidade de abrir e desregular mercados. Agora essas políticas são vistas como os réus do colapso”. Por sua vez o Huffington Post, o mais importante jornal da Internet, escancarou: “Lula: nós rejeitamos a fé cega nos mercados”. Acrescentando: “Brazil’s president: White, Blue-eyed Bankers have brought world economy to the knees”, ou, “Presidente do Brasil: Banqueiros de olhos azuis fizeram a economia mundial dobrar os joelhos”. O Financial Times, catecismo dos economistas de todos os quadrantes, estampou: “O comentário de Lula diante de Gordon Brown “ressalta o risco de confronto entre os emergentes e os países mais ricos.” E para que não reste dúvidas, o prestigioso jornal inglês, The Observer trombeteou em título de página dupla: “’Blue-Eyed bankers prompt G20 divide’”, ou seja, “’Banqueiros de olhos azuis’ levam o 20 à divisão’”.

Não precisaria explicar, mas Lula foi explícito na Cúpula de Líderes progressistas reunida em Viña Del Mar, Chile, no dia seguinte, diante de ersonalidades como Joseph Biden, vice-presidente dos Estados Unidos, Gordon Brown, Michele Bachelet, Jose Luiz Zapatero, Cristina Fernández de Kirchner, Tabaré Vázquez e Jens Stoltenberg, premiê da Noruega. O nosso presidente ao ler seu discurso incomodou, constrangeu como gostam de dizer nossos ínclitos comentaristas, o senhor Biden e outra vez o prime minister Brown, defendendo vigorosamente um Estado forte, aduzindo que o mundo está pagando o preço do fracasso de uma aventura irresponsável daqueles que transformaram a economia mundial em um gigantesco cassino. “Desemprego, pobreza, migração, desequilíbrios demográficos e ambientais, são problemas que requerem respostas economicamente coerentes, mas sobretudo responsáveis. Isto não é possível sem Estado forte”. Em outro momento, abandonando o texto escrito e, tendo abraçado o improviso, abriu coração e mente. Registrou a mudança de época vivida em nossa região, fazendo enfática defesa dos governos de esquerda: “A América Latina passa por uma poderosa onda de democracia popular, encabeçada por segmentos historicamente deserdados e marginalizados que encontram lugar em uma sociedade mais solidária. Muitos de nossos países [como a Venezuela, a Bolívia e o Equador] precisaram ser praticamente refundados institucionalmente com a aprovação popular de novas Constituições.”

A grande mídia internacional e local, repercutindo os interesses e os valores da ‘gente branca de olhos azuis’, pode ter reagido incomodada, constrangida, molestada, irritada com a metáfora de Lula. Mas os povos da Ásia, da África, da América Latina e os próprios trabalhadores dos países desenvolvidos da Europa e América do Norte, se e quando tomarem conhecimento da frase, se sentirão contemplados ao sentir no fundo da alma a verdade que ela encerra, porque sofreram e sofrem da exploração, da humilhação, da injustiça social, do desemprego, da pobreza, da miséria.

Estou exagerando? Tomo emprestado trecho da reportagem do jornalista Clovis Rossi da Folha de S. Paulo presente na marcha de protesto contra a crise deste domingo, 29 de março,em Londres, às vésperas da cúpula do G20, sob o lema central “put people first”, as pessoas em primeiro lugar. “O menino negro de olhos negros veste andrajos, segura a pasta executiva símbolo do Tesouro britânico e reclama: “Eles ajudaram a salvar os bancos e o ‘big business’. Agora é hora de que ajudem a salvar a vida de crianças”.

*Max Altman é integrante do Coletivo da Secretaria de Relações Internacionais do PT

sexta-feira, 17 de abril de 2009

O PED E AS ELEIÇÕES DE 2010 II

E cá um sonho de um dia ainda uma ‘chapa’ puro sangue do que é e seja a esquerda. Sem o partido das mil e uma facçõ... ops tendências, o PMDB. Mas há algum governo do qual eles não tomam presença?


As principais forças políticas que irão disputar o governo federal em 2010, com real capacidade de êxito, já estão postas e se travará entre dois projetos: de um lado, o projeto conservador representado pelos partidos de oposição PSDB, DEM e PPS e, do outro lado, as forças progressivas e de esquerda representadas pelo campo democrático-popular que dão sustentação ao governo Lula. No meio desses dois grandes projetos encontram-se, hoje, os Partidos que dão sustentação a esse Governo, destacando-se, entre eles, o PMDB. Esses partidos não possuem projetos de laçar candidaturas próprias à Presidência da República e irão se posicionar a favor de um dos dois projetos apresentados, dependendo da situação econômica e da conjuntura política do momento:

Se o Brasil mantiver sua resistência, como vem mantendo, a atual crise econômica mundial, mantendo os chamados fundamentos econômicos, que são os pilares dessa resistência: aumento real do salário mínimo; melhor distribuição de renda; crescimento do consumo interno; grande volume de reservas; diminuição da taxa Selic com a conseqüente diminuição da dívida pública; controle da inflação, câmbio flexível, crescimento econômico razoável e o Presidente Lula mantiver, em 2010, seu alto nível de popularidade atual, é bem provável que a base de apoio do Governo se manterá unida para as próximas eleições e a provável candidata Dilma Rousseff, que hoje parece ser quase consenso no interior do PT, terá amplas condições de ser eleita. Entretanto, mesmo com essas condições acima prevalecendo, é bem provável que o principal partido de apoio, o PMDB, não virá unido. Estados como São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal muito dificilmente montarão palanque com a Frente Democrática-Popular.

Evidentemente que outros partidos lançarão candidatos também à Presidência da República. À direita, surgirão, como em eleições anteriores, candidatos de pequenos partidos, sem projeção nacional que concorrerão sem nenhuma condição de almejar a vitória e serem eleitos. À esquerda, o Psol deverá lançar a sua provável candidata, Heloisa Helena, apoiado pelo PSTU e, é claro, o eterno candidato da Causa Operária.

No PSDB, tudo indica que o candidato a Presidente da República será mesmo o Governador de São Paulo, José Serra. Nesse sentido, a orientação do partido é encontrar uma saída honrosa para o Governador Mineiro Aécio Neves, também pré-candidato ao Governo Federal pelo PSDB. Essa saída honrosa, que está sendo articulada, será a realização de prévias eleitorais, mais ou menos nos moldes das realizadas pelo PT, mas desde que tenham, a principio, assegurada internamente vitória da indicação de José Serra como o candidato do projeto conservador. Não podemos desconsiderar que essas duas candidaturas ao Governo Federal pelo PSDB tem criado bastante atritos interno nesse partido ao ponto de na reunião da Bancada Federal, para a escolha do seu líder na Câmara, ter-se configurado um bloco de 19 Deputados, nitidamente pró-Aécio Neves, que se articulam como uma tendência dissidente da Bancada, não reconhecendo, por isso, o líder do Partido.
Ao manter as condicionantes econômicas acima apontadas e a alta popularidade do governo Lula, o mais provável é que tenhamos como principal aliado o PMDB com alguns Estados não fazendo palanques com a Frente Democrática-Popular.

As eleições de 2010 no Rio de Janeiro


No Estado do Rio de janeiro, estamos observando no interior do Partido e na grande imprensa, uma discussão envolvendo algumas lideranças do PT acerca do processo de sucessão ao Governo Estadual em 2010. Em nossa opinião, é um debate importante, porém da maneira que vem sendo apresentado, desfocado e equivocado.
É possível o PT lançar candidatura própria ao Governo Estadual em 2010? A resposta a essa pergunta nos remete ao principal desafio colocado para o nosso partido nesse processo e já analisado acima: a construção de um amplo leque de alianças partidárias de sustentação da candidatura do PT à sucessão do Presidente Lula, tendo como núcleo principal o PMDB.

A movimentação do presidente Lula em atrair o PMDB para essa aliança nacional, encabeçada pelo PT, provavelmente com o nome da ministra Dilma Rousseff, é pública e está, até mesmo, incomodando a oposição que também começa a se movimentar no sentido de atrair setores da base parlamentar do governo, como se viu nas eleições das mesas da Câmara e do Senado. Mesmo reconhecendo as diferenciações regionais desse partido, a presença formal do PMDB numa aliança com o PT, estabiliza uma candidatura, e com o apoio do presidente, torna-á competitiva.

Como o apoio do PMDB somente ocorrerá com as condicionantes descritas acima, ou seja, crescimento econômico e popularidade alta de Lula, mesmo assim uma boa parte do Partido apoiará José Serra. Nessas circunstancia, a “costura” dessa aliança passará pelas lideranças do PMDB que mais se aproximaram de Lula no último período, e neste particular, o Governador Sergio Cabral é um dos principais interlocutores do Partido.

Se considerarmos ainda que o PT integra formalmente o Governo Estadual do Rio de Janeiro, não há coerência no lançamento de uma candidatura do Partido nesse momento. Não ajuda na resolução da questão nacional e não dialoga, de forma conseqüente, com sua condição de Partido integrante do Governo Estadual.

Portanto, o lançamento de um nome do PT para a disputa do Governo Estadual, nesse momento, só encontra justificativa em duas situações simultâneas: primeira, a definição de uma tática eleitoral regional desvinculada de um projeto nacional; segunda, a ruptura com o governo estadual, já. Não parece que estas duas situações já estejam colocadas.

Em resumo, esta questão será tratada no seu devido tempo, e seu sentido e fórum decisório estão definidos. O sentido é o fortalecimento da candidatura do PT à Presidência da República, o fórum, o IV Congresso Nacional do PT em março de 2010. Daqui a um ano o PT nacionalmente se reunirá para definir o nome da sua candidatura à Presidência, a política de alianças e a tática eleitoral nos Estados. Os Congressos Estaduais do Partido se darão após esse evento e estarão submetidos às decisões definidas nacionalmente. Neste momento ficará claro se haverá aliança nacional com o PMDB. Caso ela se confirme, o PT/RJ apoiará a reeleição do governador Sergio Cabral, ao contrário, o PT precisará lançar um nome competitivo para essa disputa.

Por essas razões é que sustentamos que somente na hipótese do PMDB não apoiar a candidatura à presidência do PT é que surge, de forma natural, o nome do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Faria como possível candidato. Logo, é legítima a movimentação de dar visibilidade na mídia deste nome por militantes do PT, ao mesmo tempo em que se preserve a posição formal do partido. Entretanto, essa movimentação não pode ter um caráter de oposição ao Governo Sergio Cabral, do qual o PT participa, inclusive com militantes que estão à frente dessa movimentação. Junto a isso, numa eventual situação onde o partido precise apresentar uma candidatura própria, esta não se dará em aliança com Garotinho e Gabeira. O PT, neste caso, buscará alianças à esquerda.
Assim, podemos afirmar que não há uma polarização real entre duas políticas: apoio a Sergio Cabral x candidatura própria. Lindberg poderá ser o candidato a Governador do PT no caso de fracassar nacionalmente a aliança com o PMDB, e mesmo assim terá de superar os problemas com a bancada de vereadores do PT de sua cidade. Neste caso, poderá ser uma candidatura de consenso do PT. Entretanto, queremos deixar bem claro que, neste momento, a nossa política central para o Estado do Rio de Janeiro será manter a aliança construída em 2006 com o Governo de Sergio Cabral.

A chapa para o Senado, o PT/RJ não necessariamente estará em aliança com o PMDB de Sergio Cabral. E não há nenhuma contradição nisso. O candidato do PMDB ao Senado deverá ser Picciani sendo a outra vaga, provavelmente, de algum outro partido aliado à direita. Além disso, não podemos esquecer o nosso acordo com a Benedita da Silva de reservar à primeira vaga para ela concorrer ao Senado. Portanto, necessariamente, por acordo, teremos de ter um candidato ao Senado, sozinhos ou em aliança. Se lançarmos sozinho chapa majoritária ao Senado, o PT, neste caso terá dois candidatos podendo ser, o outro nome, o de Lindberg Farias.

A nossa nominata de candidatos a Deputados Estadual e Federal do Estado do Rio de Janeiro deverá ser a mais ampla possível sem alianças proporcionais com outros partidos. Já a lista dos candidatos do Movimento Mensagem deverá ser acompanhada pela coordenação regional no sentido de o Movimento Mensagem começar a criar identificação própria e não nos dispersarmos em um grande número de candidatos sem chances de serem eleitos, como fizemos em 2008 nas eleições para vereadores no município do Rio de Janeiro e não conseguimos eleger nenhum vereador.

O Movimento Mensagem deverá lançar chapa própria no PED, inclusive para Presidente Nacional do PT com o deputado Federal José Eduardo Cardoso encabeçando a chapa. Entretanto, existe a possibilidade de ser “costurado” um nome com CNB, apoiado por nos, que tenha simpatia por nossas posições. O mais provável, no entanto, é que lancemos o nome de José Eduardo Cardoso.

Em nível Estadual o Movimento Mensagem deverá, em princípio, lançar nome a Presidente Estadual do PT. Entretanto, para viabilizar uma candidatura com condições de vitória, poderemos construir uma candidatura de consenso ou de ampla maioria, não necessariamente do nosso campo, que tenha como compromisso político o respeito ao Estatuto do PT e suas instâncias interna e que não tenha relações sectária com a nossa corrente.

Em nível dos Municípios do interior do Estado o Movimento Mensagem deverá, a medida do possível, buscar mediar alianças com os setores mais próximos e onde formos a maior força ou a que representa melhor essa aliança lançarmos candidatos a Presidente desses Diretórios. No entanto, não podemos perder de vista a importância de como melhor estarmos representado nesses diretórios e, principalmente, em suas executivas. Ser o Presidente não é tudo, embora seja muito importante.

A cidade do Rio de Janeiro, o maior município do Estado, além de ser a sua Capital, se destaca em um texto como este. Aqui na Capital, dado a situação atual no Diretório Municipal, de boas relações internas, principalmente com o atual Presidente, deveremos afirmar que iremos apoiar o lançamento de um candidato afinado com as nossas posições desde que configure ampla maioria, podendo esse candidato ser do nosso campo ou não.

No PT: Virar à esquerda! Reatar com o Socialismo!


O Diretório Nacional do PT convocou o PED (Processo de Eleições Diretas) das instâncias partidárias para 22 de novembro de 2009. Neste dia serão eleitas as direções zonais, municipais, estaduais e nacional do PT. Nesta mesma data os filiados do PT também elegerão os delegados para o 4º Congresso do PT. O principal ponto da pauta do Congresso nacional - e dos estaduais - será a definição do Programa de Governo para as eleições de 2010 e as respectivas candidaturas.
Com objetivo de abrir a discussão com todos os companheiros do partido apresentamos uma proposta de reorientação do partido como base para uma Tese para o PED e ao 4º Congresso do Partido dos Trabalhadores.

Virar à esquerda!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

PT em resposta ao PSDB por Max Altmann

Vamos então ao debate ideológico, senhor vice-governador Goldman

Dizendo-se estar convencido que a sociedade brasileira precisa travar o debate ideológico com vistas ao pleito presidencial de 2010, o vice-governador do estado de São Paulo, engº Alberto Goldman, avançou alguns conceitos, como contribuição sua a esse debate, em artigo publicado recentemente na Folha de S. Paulo. Faz muito bem o sr. Goldman, importante figura do PSDB, em assim agir. E como consideramos crucial este enfrentamento ideológico, trazemos também a nossa colaboração.

As pessoas mudam ao longo da vida, é normal. Muda a cabeça, mudam as circunstâncias, mudam os métodos. E muitos mudam de lado. O vice-governador é hoje um bravo defensor do capitalismo em sua atual fase neoliberal. Segundo ele “o sistema capitalista sofre crises cíclicas e que a atual foi precipitada pelos riscos assumidos pelos mercados financeiros e agravada por deficiências na regulamentação das atividades exercida pelas agências governamentais de controle”. Ou seja, bastam alguns remendos que tudo volta à normalidade. E acrescenta “ a superação da crise ... passa por uma reforma profunda das atividades financeiras em escala global e na redefinição de atividades econômicas nos países desenvolvidos, rompendo-se as cadeias de subsídios e ineficiências.”

A visão dos socialistas é outra, sr. vice-governador: a crise não se resolverá com medidas administrativas ou técnicas. A crise está umbilicalmente atrelada ao sistema capitalista de produção e distribuição, com todas as suas terríveis consequências. Achamo-nos diante de uma crise geral capitalista, de magnitude comparável àquela que estalou em 1929 e à chamada ‘Grande Depressão’ de 1873-1896. Uma crise integral, civilizacional, multidimensional, cuja duração, profundidade e alcance geográfico seguramente haverá de ser de maior envergadura que as que a precederam.

Suas causas estruturais são de crise de superprodução e ao mesmo tempo de subconsumo. Não por acaso estalou nos Estados Unidos, porque este pais há mais de trinta anos vive artificialmente da poupança externa, do crédito externo e isto tem limite: as empresas financeiras e industriais se endividaram acima de suas possibilidades; o Estado também se endividou acima de suas possibilidades para fazer frente a duas guerras sem aumentar os impostos; os cidadãos são sistematicamente estimulados, por meio da publicidade comercial, a endividar-se para sustentar um consumismo exorbitante, irracional, perdulário e desperdiçador.

O sr. Goldman acusa a resolução política do Diretório Nacional do PT de 10 de fevereiro de simplista e de se recusar a fazer uma análise profunda da realidade. A par de reveladora da arrogância dos tucanos, a acusação afronta os fatos. A resolução, apesar de não ser um ensaio de economia política, dedicou dez parágrafos, quase mil palavras ao exame da situação econômica internacional. Defendendo desabridamente que o mundo experimentou de 2003 a 2007 – percebam como fez coincidir com o início do mandato de Lula - o mais intenso ciclo de expansão econômica da história, tendo o Brasil se beneficiado da globalização da economia mundial, porém com bem menos eficiência que outros países, o dirigente tucano pinçou a frase da Resolução:
“Estamos diante de uma crise do sistema capitalista como um todo, na forma neoliberal que assumiu nos últimos 30 anos” e desafia. “É isso mesmo?”

É exatamente isso, sr. Goldman. E a Resolução foi precisa em responder antecipadamente a sua provocação. Cito textualmente: “A economia neoliberal se caracterizou por um novo processo de concentração de renda nas camadas mais ricas e pelo estímulo ao consumo das camadas mais pobres e das classes médias através do sistema financeiro, que lhes emprestava recursos impagáveis; por deixar a regulação da economia nas mãos dos agentes privados do mercado, em especial os grandes bancos, as grandes corporações e os grandes especuladores; pelo enfraquecimento do papel do Estado, retirando-se da regulação da economia e dos investimentos produtivos e sociais; pela onda de privatizações que pôs em mãos privadas setores estratégicos da economia; pela imposição da liberdade de comércio internacional, ao mesmo tempo em que se mantinham medidas protecionistas no território dos países mais ricos.” Que tal, sr. vice-governador? Nada simplista e suficientemente concisa e profunda.

O octanato tucano foi marcado pelo enfraquecimento do Estado, pelas privatizações, pelo desemprego, pela desigualdade social, pelo arrocho salarial, pelo desconhecimento e criminalização dos movimentos sociais, pelo agravamento da segurança pública, pela deterioração do ensino e da saúde pública. Neste período prevaleceram no cenário político e econômico as forças conservadoras e neoliberais que implementaram no Brasil as mesmas políticas que estão na raiz da crise mundial em curso, tão estoicamente defendidas pelo sr. Alberto Goldman.

Cabe ressaltar ainda duas passagens do artigo que dizem mais respeito a um aspecto ideológico e a uma verdade histórica, que o vice-governador, por sua formação, não poderia ignorar e que estão a merecer rigoroso reparo. O sr. Goldman escreve que “acreditar, como faz o PT, que a crise significa um tiro de morte no sistema de produção capitalista é uma aposta que não possui nenhuma aderência à realidade.” É falso atribuir isto à direção do PT, porque seus membros não são néscios o bastante para desconhecer que o capitalismo não cai por si só e não pode ser derrubado se não existe uma força social que o faça ruir. Esta força não está presente sequer nas sociedades mais desenvolvidas, inclusive os Estados Unidos.

Em outra passagem diz que “ao PT, que se coloca como arauto de um projeto de ‘horizonte socialista’ ... o que o PT pretende alcançar? Qual é o outro modelo econômico-social de que fala o PT? É a volta à economia centralizada e seus mirabolantes e ineficazes planos qüinqüenais com a presença esmagadora do Estado?” Sr. Goldman, qualquer estudante de História sabe que há uma distância abissal entre a realidade objetiva e subjetiva da Rússia do começo do século XX com a realidade do Brasil do princípio do século XXI. Portanto, ainda que o PT quisesse, não conseguiria, nem por milagre, reproduzir aquela realidade. Parodiando o velho Marx, repeti-la seria uma farsa. Quanto aos planos qüinqüenais, reconhecem todos os historiadores econômicos sérios, o 1º Plano Quinquenal (1928-1932), longe de ter sido mirabolante e ineficaz, tirou a URSS, apesar do alto custo humano, do enorme atraso econômico com taxas anuais de crescimento superiores às dos Estados Unidos do final do século XIX e começo do século XX, e que o 2º Plano Quinquenal (1933-1937) lançou nada menos que as bases materiais para enfrentar e derrotar, ao preço de milhões de denodados combatentes, a máquina de guerra nazista na Segunda Guerra Mundial.

O confronto em 2010 será entre duas visões e dois projetos absolutamente distintos. As forças de esquerda e do progresso querem um Estado forte, capaz de ordenar e planejar e um projeto que continue reduzindo a desigualdade social e as disparidades regionais, que gere emprego e distribua renda, que universalize a educação, a saúde e a seguridade social públicas, que aja no combate eficaz ao crime, que trabalhe pela democratização dos meios de comunicação, que prossiga em sua política externa independente, em defesa da soberania nacional e da autodeterminação dos povos, da integração da América Latina e em prol da solução negociada, pacífica e justa dos conflitos internacionais. O povo brasileiro não vai permitir volta ao passado.

Max Altman

13 de abril de 2009
PT sempre 13!
Trabalho,Terra e Liberdade



sexta-feira, 10 de abril de 2009

O RIO NÃO PRECISA DE MUROS, O RIO PRECISA DE PONTES.

Idéia que não funciona e ainda traz prejuizos maiores do que o problema que quer resolver é um perigo....Aquela história, para um problema complexo tem sempre uma solução fácil, simples ... e errada.Agora tem essa de cercar as favelas do Rio com muros....para não crescerem , dizem...
Considero necessário e importante impedir o crescimento das favelas sobre o verde
para preservar esse fundamental ativo economico e social da cidade e para a qualidade de vida de todos e ,especialmente, da propria comunidade. O crescimento vertical das favelas, especialmente o comercial-criminoso ( o da lage bem menos ) não ocupa o espaço do verde, mas tambem exerce pressão ambiental e piora na qualidade de vida da comunidade.

As favelas da zona sul, onde estão previstos os muros, tem tido mais de 95 % do seu crescimento na forma vertical...são dados do IPP, da FIRJAN, de quem medir. Então, esse é o problema...e, como não se trata mais de desvalidos chegando sem rumo nem casa, e , sim , de um negocio ilegal que paga tributos à bandidagem, sejam traficantes, milicianos ou poder público corrompido, O VERDADEIRO PROBLEMA é o controle territorial por parte da bandidagem, a perda, pelo Estado, do monopólio do uso da força nesses territórios.

Mesmo assim, é importante não aceitarmos a perda de um unico metro quadrado de verde. Para isso, existem muitas soluções inteligentes,todas elas procurando trazer as comunidades para esse esforço, o que não é nem um pouco dificil, a experiencia mostra...

Eco-limites aperfeiçoados para resistirem ao roubo de cabos de aço :já me mostraram diversos projetos bonitos e que a comunidade apreciaria.. .eco-limites digitais : basta marcar com GPS e por uma barreira fisica decente...todos nós acompanharmos pelo google earth ou outros aplicativos e a vigilancia da sociedade é poderosa...

Precisa lembrar que até o muro do rio Grande para barrar imigração ilegal nos EUA na fronteira do México só tem funcionado bem agora, com internautas vigiando a partir de centenas de cameras ? Já o muro cercando favelas no Rio seria a mais completa demonstração de não uso do conhecimento. Vai servir para interromper o crescimento
horizontal ? Não ! Na verdade, vai ser uma parede para um domicilio do lado de dentro e outra para o do lado de fora. Sei que vão responder que estarão fiscalizando. .É mesmo? Então não precisa de muro...

Vai servir para segurança, para evitar que a bandidagem use as matas como refúgio ? Não ! Precisamente o contrário ( tenho minhas razões, militante que sou do Paz Agora, para ler bastante sobre o muro em Gaza ). Em duas semanas só quem vai conhecer os buracos, as passagens secretas, os tuneis, será a bandidagem.. .para a policia vão sobrar as armadilhas ou dar a volta toda...

O Dona Marta não está ocupado ? Vão cercar porque? Vão abandonar a ocupação ?
Murar não vai ajudar em nada, mas pode ferir de morte a cidade do Rio...Somos cheios de graves problemas, mas somos nós, o Rio de Janeiro, a mais democrática, a mais autentica, a mais cheia de alma das grandes cidades do mundo. Esse é, para quem não gosta de romantismos, o maior ativo economico da cidade do Rio. Praia e floresta, de que tanto gostamos,tem mais por aí...

Murar as favelas tem um impacto simbólico terrivel. É gueto, separação...é partir a cidade voluntária e conscientemente. ..mata nosso mais precioso bem , arruina nossa alma, e o faz sem beneficio algum. O vice-governador Pezão declarou que o Rio tem de abandonar o romantismo.. .Eu gosto do Pezão, acho que fez um excelente trabalho em
Piraí como prefeito e tem dado duro na função atual. Mas pisou feio nessa, e pisada de pezão sabe como é...

Se o Rio abandonar o romantismo, deixa de ser o Rio...e aí, bem, faça-se o que se quiser que tanto faz, já não é o Rio....A questão não é essa. A questão é se vamos enfrentar os problemas com métodos do século XXI ou com muros medievais.

Não é vergonha nenhuma recuar...troquem os muros por decentes eco-limites, fisicos e digitais e sigamos com as muitissimas iniciativas e trabalhos, fisicos, mas tambem sociais e culturais, necessários para dar sustentabilidade ao Rio de Janeiro...

Mas recuem dessa idéia infeliz. Querem mais? No século em que a palavra chave é INCLUSÃO, uma cidade que mura e põe no gueto parte de sua população desfavorecida NÃO merece e NÃO vai ganhar o direito de fazer as olimpiadas. Ou voces acham que no jogo pesado dessa disputa não vai ter um jornal americano com a manchete : " Rio quits and surround the slums " ?

O RIO NÃO PRECISA DE MUROS, O RIO PRECISA DE PONTES.

por Sérgio Besserman Vianna

terça-feira, 7 de abril de 2009

Os equivocos do PSDB :em resposta ao Vice Governador de SP quanto a sua pedancia em relaçao ao Partido dos Trabalhadores

PT sempre 13!
Trabalho,Terra e Liberdade

Os equívocos do PSDB

Valter Pomar

Alberto Goldman, vice-governador de São Paulo, escreveu um artigo criticando a resolução política aprovada pelo Diretório Nacional do PT no dia 10 de fevereiro. O artigo de Goldman foi publicado pelo jornal Folha de S.Paulo, no dia 5 de abril.

Desconheço se existe uma resolução do Diretório Nacional do PSDB acerca da crise internacional, seus desdobramentos no Brasil e sua influência nos debates da sucessão presidencial.

Assim, fico sem um parâmetro essencial para saber se a resolução do PT, de cuja redação e aprovação eu participei, é mesmo (como afirma Goldman) “simplista”; ou se o adjetivo é apenas um cacoete típico da arrogância com que os tucanos qualificam qualquer coisa que não tenha origem em suas “mentes brilhantes”.

Fiquei com a impressão, entretanto, que Goldman não leu com atenção a resolução que critica. Se tivesse lido, teria percebido que antes da constatação –ademais, óbvia— de que estamos “diante de uma crise do sistema capitalista como um todo, na forma neoliberal que assumiu nos últimos 30 anos", há uma descrição e uma análise que o vice-governador tucano não questiona.

Pior ainda: Goldman critica algo que o texto do PT simplesmente não diz, a saber, que esta crise “significa um tiro de morte no sistema de produção capitalista”.

Insisto: a resolução aprovada pelo Diretório Nacional do PT não afirma, não insinua, não sugere, em nenhum momento, em nenhuma passagem, em nenhum trecho, que esta crise seja “um tiro de morte” no capitalismo. E, ao contrário do que diz Goldman, o documento do PT apresenta propostas concretas e imediatas para enfrentar a crise, inclusive “reformas radicais e urgentes dos organismos econômicos e financeiros multilaterais” .

Seria cômodo acusar Goldman de mentiroso, pura e simplesmente. Mas talvez seja mais útil tentar entender por qual motivo ele critica com tanta ênfase algo que não está no texto aprovado pelo PT.

Arrisco duas explicações: primeiro, o documento aprovado pelo Diretório Nacional do PT reafirma a orientação socialista do Partido, orientação que a crise torna ainda mais atual. Segundo, ao nos acusar de estúpidos, Goldman desvia a atenção da estupidez tucana.

A profunda hegemonia do capitalismo, hoje, é exata e somente isto: um fato. Deste fato não deriva, como pensa Goldman, que o capitalismo seja eterno, que a sociedade humana seja incapaz de organizar de outra maneira a produção e a distribuição das riquezas, que o socialismo tenha se tornado inviável.

Se não for pedir demais, recomendamos a Goldman que leia a resolução do 3º Congresso do Partido dos Trabalhadores, especialmente o capítulo “socialismo petista”, onde está uma síntese do que defendemos. Um socialismo cujos “principais traços” incluem: a mais profunda democratização; um compromisso internacionalista; o planejamento democrático e ambientalmente orientado; a propriedade pública dos grandes meios de produção.

O fato de reafirmarmos nossa defesa do socialismo, não significa que acreditemos que esta crise é “um tiro de morte” no capitalismo, nem que ela necessariamente vai “apressar a transição” para uma sociedade socialista.

Muito ao contrário de qualquer fatalismo, longe de qualquer otimismo de Poliana, a resolução do PT fala o seguinte:

a) “assistimos a uma disputa entre diferentes projetos: forças conservadoras, progressistas e socialistas competem para definir o desenho do mundo pós-crise”;

b) é necessário “impedir que a crise jogue o país na recessão; mais do que isto, é preciso transformar a crise numa oportunidade para acelerar a transição, já iniciada pelo governo Lula, em direção a outro modelo econômico-social” ;

c) “a vitória do projeto progressista e de esquerda dependerá, em grande medida, da articulação do campo democrático-popular e da construção de um programa para o próximo mandato presidencial, que articule o que fizemos desde 2003 com nosso projeto democrático-popular de horizonte socialista”.

Nós não causamos a crise. Nós não comemoramos a crise, que do ponto de vista imediato causa impactos sociais e econômicos negativos para a maior parte do povo, a começar pelo desemprego. Nós não agimos como os tucanos, que torcem pelo agravamento da crise, na perspectiva de colher dividendos eleitorais em 2010. Nós não nos acovardamos frente à crise, que comprova o acerto das mudanças que estamos fazendo no país e que precisamos aprofundar.

É impressionante que o vice-governador, ex-comunista, tenha se tornado mentalmente tão conservador, a ponto de criticar inclusive isto: que uma crise seja, ao mesmo tempo, risco e oportunidade.

Aliás: se esta crise oferece também oportunidades para o Brasil, é exatamente na medida em que o governo Lula não seguiu a “trilha aberta pelo governo FHC”. Pois esta trilha, falemos com clareza, conduzia à privatização dos bancos públicos e à implantação da Área de Livre Comércio das Américas, para ficar apenas nestes dois exemplos.

Olhando ao revés: as dificuldades que temos, para enfrentar esta crise, originam-se exatamente da herança maldita do governo anterior, daquilo em que ainda não conseguimos romper com a “trilha” seguida por FHC. Por exemplo: o peso da especulação financeira e a legislação que contém os investimentos públicos.

Esta herança ainda é forte, exatamente porque os neoliberais ainda têm enorme força política. Aliás, que curioso: Goldman atacou coisas que não estão na resolução do PT. Mas não se deu ao trabalho de negar que os tucanos são neoliberais.

Pelo menos nisto, pensou mais como ex-comunista do que como anti-comunista, figurino que ele veste quando busca desqualificar quem acha, como nós do PT, que é possível e necessário construir outro tipo de sociedade, que não esteja submetido a crises periódicas causadas por um modo de produção que se organiza em torno do lucro e da exploração.

Valter Pomar, secretário de relações internacionais do PT


Os equívocos do PT

ALBERTO GOLDMAN
Eis a minha contribuição ao debate ideológico. Estou convicto de que a sociedade brasileira deve travar esse debate para 2010

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A RESOLUÇÃO política do Diretório Nacional do PT de 10/2, que se propõe a analisar a crise econômica internacional, seus desdobramentos no Brasil e sua influência nos debates da sucessão presidencial é um documento que, além de simplista, é revelador.

Nele o PT se recusa a fazer a análise de maneira profunda, preferindo sentenciar: "Estamos diante de uma crise do sistema capitalista como um todo, na forma neoliberal que assumiu nos últimos 30 anos". É isso mesmo?

O mundo experimentou de 2003 a 2007 o mais intenso ciclo de expansão econômica da história, e o Brasil se beneficiou da globalização da economia mundial, com bem menos eficiência, é verdade, que países como China, Índia, Coreia do Sul e Rússia.

É fato, porém, que o sistema capitalista sofre crises cíclicas e que a atual foi precipitada pelos riscos assumidos pelos mercados financeiros e agravada por deficiências na regulamentação das suas atividades exercida pelas agências governamentais de controle.

Agora, acreditar, como faz o PT, que a crise significa um tiro de morte no sistema de produção capitalista é uma aposta que não possui nenhuma aderência à realidade. Mesmo porque inexiste hoje no mundo qualquer alternativa de organização do sistema econômico que não nos moldes da economia de mercado, com graus diferenciados de intervenção estatal -não só necessária como legítima.

Diferentemente do que pensa o PT, a superação da crise, dada sua profundidade e seu alcance, passa por uma reforma profunda das atividades financeiras em escala global e na redefinição de atividades econômicas nos países desenvolvidos, rompendo-se as cadeias de subsídios e ineficiências explicitadas por ela.

Ao PT, que se coloca como arauto de um projeto de "horizonte socialista", exaltado na resolução, cabe a reflexão, ainda que tardia, sobre o desaparecimento no final do século passado dos regimes socialistas e comunistas do Leste Europeu. O que o PT pretende alcançar? Qual é o outro modelo econômico-social de que fala o PT?

É a volta à economia centralizada e seus mirabolantes e ineficazes planos quinquenais, com a presença esmagadora do Estado? É a instituição do regime político de partido único a conduzir todas as atividades político-econô micas? Ou é a simples troca de um projeto de nação por um projeto de poder, conforme denunciou Frei Betto em recente entrevista?

Encontramos na resolução petista a seguinte afirmação: "Os neoliberais que nos antecederam no governo do Brasil, que ainda governam Estados brasileiros e cidades muito importantes, que têm forte presença no Congresso Nacional (...)". Ora, ora, ora, se não são os vícios de uma esquerda de pensamento antidemocrático se manifestando na expressão "ainda".

Como se as conquistas do recente processo de democratização do país -o pluripartidarismo e a convivência de vários partidos no comando de Estados e municípios- fossem uma excrescência, e não a normalidade da vida democrática, e como se ao governo Lula se opusesse apenas uma corrente do pensamento político nacional.

Ora, ninguém minimamente lúcido, no Brasil ou no mundo, deseja uma recessão econômica. Os empresários porque, com ela, perdem muito dinheiro, e os trabalhadores porque perdem o emprego. Logo, a luta contra a recessão não é um privilégio petista. Agora, afirmar que a crise pode apressar a transição para o tal horizonte socialista, conforme afirma a resolução, não passa de delírio.

Se o governo Lula seguiu uma direção correta, foi ter-se mantido na trilha aberta pelo governo FHC de controle da inflação, responsabilidade fiscal, aumento da participação da iniciativa privada nos projetos de infraestrutura e fortalecimento do sistema financeiro nacional.

Mas batizar com novos nomes programas em andamento (o PAC é isso) ou assumir como sua a criação de projetos gestados no passado pode funcionar no campo da propaganda, mas não esconde a verdade: o que o governo Lula tem de melhor foi e é a continuidade -em uma fase de grande desenvolvimento da economia mundial, que se iniciou em 2003 e durou até 2008- de esforços do governo anterior, algo que o governo Lula se recusa a reconhecer. Até quando vão fugir das responsabilidades com as dificuldades por que passa o país?

Eis aqui a minha modesta contribuição ao debate ideológico. Estou convicto de que a sociedade brasileira deve travar esse debate para 2010 e optar entre um projeto de poder de exclusividade de um grupo político ou um projeto de país com foco na justiça social, comprometido com a ampliação dos espaços democráticos e de cidadania.


ALBERTO GOLDMAN, 71, engenheiro civil, é vice-governador do Estado de São Paulo. Foi ministro dos Transportes (governo Itamar Franco) e secretário da Administração do Estado de São Paulo (governo Quércia).

segunda-feira, 6 de abril de 2009

BISCAIA DENUNCIA PRESSÃO DE UNIÃO DE VEREADORES DO RIO E AVISA: “NÃO TENHO MEDO DE AMEAÇAS!”

PT sempre 13!
Trabalho,Terra e Liberdade

O deputado falou ao jornalista Heródoto Barbeiro na Rádio CBN e fez discurso da tribuna da Câmara reafirmando posição contra aumento do número de vereadores no país



Brasília (2/4) – O deputado Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ) reafirmou da tribuna da Câmara, nesta quinta-feira, sua posição contrária ao aumento do número de vereadores, previsto na PEC 333/2004, e denunciou ter recebido ameaça da União dos Vereadores do Rio de Janeiro porque não concorda com a proposta. “Vou manter a minha linha. Eu não me intimido com ameaça de natureza alguma, nem ameaça de morte, quanto mais uma ameaça ridícula como essa”, declarou.

Na quarta-feira à noite, após votar contra o aumento do número de vereadores na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, o deputado petista recebeu o seguinte recado de alguém que dizia representar a União de Vereadores do Rio de Janeiro: “Deputado, a partir de hoje, vamos iniciar uma campanha contra a sua reeleição”.

“Não são vereadores, são suplentes que não foram eleitos. Vão fazer uma campanha no Rio de Janeiro? Que a façam, porque tenho a convicção de que as pessoas de opinião, aqueles que são meus eleitores, que defendem princípios e valores éticos, vão me apoiar muito mais fortemente”, declarou Biscaia.

CBN – Nesta manhã, Biscaia foi entrevistado pelo jornalista Heródoto Barbeiro, âncora do Jornal da CBN, sobre a questão da PEC dos Vereadores, que tramita no Congresso desde 2004 e que chegou a um impasse no ano passado entre o Senado e a Câmara. Na oportunidade, ele reafirmou sua opinião contrária ao aumento de mais de sete mil vagas de vereadores no país.

E explicou que os deputados aprovaram esse aumento, mas determinaram também o limite de gastos nas câmaras municipais quer seriam decorrentes da presença de mais vereadores nas casas legislativas municipais. O que significaria uma economia de mais de R$ 1 bilhão para os cofres públicos.

No entanto, o Senado retirou da emenda essa parte das despesas, com o que a Câmara não concorda. Por isso, a PEC ainda não foi promulgada. Pela decisão da CCJ, na quarta-feira, caberá ao presidente da Câmara, deputado Michel Temer, promulgar ou submeter o assunto novamente ao plenário.

domingo, 5 de abril de 2009

Relembrando a ditadura -A Globo e a sua formação politica ao povo dando cacete no Brizola

No dia 3 de abril de 1964, o jornal “O Globo” estampou, em sua primeira página, matérias apoiando a Marcha com Deus e a Família pela Liberdade, manifestação de setores conservadores da classe média carioca, que foram às ruas, no dia anterior, apoiar o golpe de estado contra o presidente João Goulart. Passeatas semelhantes haviam ocorrido em São Paulo (em 13 de março do mesmo ano) e em outras capitais. Tudo fazia parte de uma grande campanha, apoiada por políticos de oposição, empresários conservadores, setores militares e pela CIA, para desestabilizar o governo de Jango, considerado esquerdista e perigoso aos olhos do Tio Sam.

Aliás, todos os governos democráticos da América Latina eram considerados perigosos, na época, e todos foram derrubados e substituídos por ditaduras, com apoio do EUA. Dólares foram despejados fartamente em jornais brasileiros, que não se acanharam em participar de uma trama orquestrada do exterior, para desestabilizar o governo democraticamente eleito de nosso país. Isso é História. A parte vergonhosa da História que cabe às organizações de Roberto Marinho.

Neste domingo, “O Globo” pareceu voltar às suas origens, estampando em primeira página manchete que acusa o falecido Leonel Brizola de receber propina das empresas de ônibus do Rio de Janeiro. Empresas encampadas por ele e que, mais tarde, se uniram para financiar o candidato que o derrotou nas urnas (Angorá Moreira Franco).
Vivo fosse para se defender, certamente o velho Briza acionaria novamente a Justiça contra “o jornal do Dr. Roberto”. E, creio eu, venceria. Como venceu inúmeras vezes, conseguindo publicar suas respostas, respaldadas por lei, nas páginas do jornal que o difamava.

É de uma leviandade absurda que se dê espaço na primeira página de um dos jornais mais importantes do país para relatórios produzidos por gente que assassinou, torturou e se especializou em contra-propaganda clandestina, financiada com dinheiro estrangeiro. Gente cujo objetivo principal era desestabilizar o governo constitucional e implantar no Brasil uma ditadura militar, fiel aos ditames de Washington.

A matéria não menciona quase nenhum nome. Apenas reproduz o que os relatórios anônimos do SNI vociferavam contra Brizola, o governador gaúcho que organizou a resistência ao golpe de 1964 mesmo depois de o presidente João Goulart ter abandonado o paí¬s. Os militares golpistas jamais o perdoaram por isso, perseguindo-o até quando ele, retornado do exílio, conseguiu recuperar, no voto, o espaço que a ditadura lhe havia roubado. Houve no Brasil algum político que tenha conseguido se eleger governador por dois estados (Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro)?

Os arquivos do SNI são públicos? Como “O Globo” teve acesso a eles? Outros pesquisadores poderiam ler os textos reproduzidos pelo jornal? Quem assina os relatórios do SNI? Qualquer fonte anônima pode ter suas palavras estampadas na primeira página do jornal mais importante do Rio de Janeiro?

O próprio texto da matéria reconhece que nada foi provado, mas manifesta implícita simpatia com os autores das calúnias, ao afirmar que a ditadura acionou seu “sofisticado esquema de espionagem” para investigar o governador do Rio. Ora, quem viveu e conheceu as investigações perpetradas naquele tempo sabe que a ditadura foi tudo, menos sofisticada. As “informações” eram obtidas por caguetagem, intimidação e porrada, muita porrada, distribuída covardemente, nos porões dos quartéis.

O texto da reportagem ainda diz: “Os relatórios não apresentam provas e não indicam ter originado investigações formais, mas são categóricos nas acusações”. Um torturador “categórico” parece ser fonte confiável, aos olhos dos atuais editores de “O Globo” e do repórter que assina a matéria, Bernardo Mello Franco.

Nunca votei em Brizola. Não confiava em seu discurso de caudilho. Mas, ainda assim, não pude deixar de notar que ele sempre esteve muito acima de todos os milicos e torturadores que conspiraram pela sua derrota, fosse antes ou depois do golpe. “O Globo”, aparentemente, ainda não perdoou o velho gaúcho. Ainda o teme e difama, tantos anos após a sua morte.

A manchete correta, na minha modesta opinião, talvez fosse “Sarney rasgava relatórios do SNI”, uma informação dada ao jornal, com exclusividade, pelo proprio ex-presidente, e que demonstra a credibilidade que tais arapongas tinham entre os políticos da época.

Por mais que tenha se excedido e transigido com diversos aliados de conduta para lá de duvidosa, Brizola foi um polí¬tico impar. Ele, certamente, poderia sentar seus netos no colo e contar a sua vida, sem medo ou vergonha. Será que poderiam fazer o mesmo os rapazes anônimos do SNI, do Cenimar, dos CODI e outras siglas obscuras, para quem “O Globo” cedeu espaço tão nobre e generoso?
E olha que eu nem falei do escandalo da Proconsult

http://www.revistazepereira.com.br/

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Rio, favelas e democracia

Trabalho,Terra e Liberdade


Há muitos anos atrás, talvez mais do que a nossa memória queira registrar, começou no Rio o processo que hoje é designado como problema da violência, usualmente associado ao tráfico de drogas e ao domínio armado de traficantes em favelas. Os tratamentos que o governo do estado, a prefeitura e o governo federal têm dado a este problema têm sido, de modo geral, baseados em um modelo repressivo que insiste em ignorar os direitos dos moradores de favela.

Há muitos anos atrás, talvez mais do que a nossa memória queira registrar, começou no Rio o processo que hoje é designado como problema da violência, usualmente associado ao tráfico de drogas e ao domínio armado de traficantes em favelas. Os tratamentos que o governo do estado, a prefeitura e o governo federal têm dado a este problema têm sido, de modo geral, baseados em um modelo repressivo que insiste em ignorar os direitos dos moradores de favela.

Já ouvi, sim, um incontável número de vezes os argumentos que insistem em dizer que é preciso enfrentar com armas poderosas aqueles que estão armados até os dentes. Já ouvi também muita gente boa considerar que se mostrar solidário com as vítimas de ataques da polícia é escolher o “lado” errado, qual seja, o dos bandidos que continuariam à solta, atacando as “pessoas de bem”. Argumentos deste gênero não faltam.

Desenvolveu-se, a meu ver, uma percepção política no Rio de Janeiro que se baseia num suposto antagonismo: “defender” os bairros da cidade seria “atacar” as favelas, compreendidas como redutos do crime. Esta percepção tem impedido que se considere seriamente o direito à vida dos que moram nas favelas da cidade. Os direitos destes indivíduos ficam subordinados às garantias dadas à parcela da cidade que se vê atacada e são assim dependentes do que se passa nos seus lugares de moradia. De um lado se encontrariam os cidadãos que é preciso defender e, de outro, os “elementos” que não possuem direito a ter direitos. A versão mais extrema desta posição política sustenta que não se pode garantir direitos humanos para bandidos – exigindo, em conseqüência, medidas cada vez mais violentas para “defender” os que pertenceriam ao lado da cidade onde moram os ditos “homens de bem”.

Ano após ano, esta concepção política hegemônica é aplicada, cada vez com mais meios repressivos, com mais impaciência e violência, com mais armas e mais mortes, mais ameaças e mais barbárie, sem que um único fio – uma pequena vírgula que seja – nos indique que a cidade se encontra agora mais pacificada, com menos crimes e menos violência.

É, mais uma vez, hora de nos perguntarmos qual é o projeto de cidade e de democracia que queremos.
É preciso fazer um balanço do que tem sido o resultado da produção sistemática de mortes e da uma segregação de uma parte da cidade considerada como lugar do crime e fonte da violência.

Já escutamos, como resposta dada àqueles que defendem “direitos humanos para favelados”, o argumento: então, o que fazer? Deixar os bandidos atacarem? Não responder aos tiros? Esta resposta, como aliás a política em que se baseia, compreende a cidade através de uma lógica de guerra. Embora a lógica de guerra, em momentos de grande comoção, nos seja apresentada como uma solução definitiva e imediata, é possível hoje perceber que entramos em um processo em que esta se transformou num meio permanente, cotidiano e banalizado de enfrentar conflitos sociais cada vez mais graves. E a sua permanência, em lugar de gerar “vitórias”, engendra, cada vez mais, antagonismos que circularmente justificam o uso da força e da violência armada. Este círculo vicioso parece hoje bem integrado ao nosso futuro.

Qual é a cidade que queremos? Qual é projeto de cidade que hoje se está construindo através desta política que aumenta os muros, as armas e as zonas de guerra? Será que é possível pensar em uma cidade democrática construída por estes meios? Já existem no mundo muitas cidades em que muros e grades dividem os habitantes, em que guardas cada vez mais armados, policiais em número cada vez maior, estabelecem supostas “zonas de segurança” que sistematicamente revidam os ataques, transformando a vida de todos os habitantes em um eterno pesadelo. Chora-se os mortos e aumenta-se as fronteiras, grita-se por vingança e organiza-se mais trincheiras. Não acho que este caminho deva permanecer no Rio de Janeiro.

É preciso reconhecer que estamos diante de um falso antagonismo que alimenta uma perspectiva política fascistizante e anti-democrática, além de corrupta, evidentemente. Será tão difícil reconhecer a centralidade da associação e a cumplicidade política entre criminosos situados em favelas e segmentos do Estado, empresários de segurança, contrabandistas de armas e de drogas, comandos militares, milícias e certos vereadores e deputados?

É no plano político que devemos identificar de que lado estamos – não será através das divisões territoriais, alimentadas pela violência policial, que poderemos ver onde estão os adversários da paz e da democracia. Estaremos do lado dos que bradam pela solução armada e aproveitam para formar sua pequena empresa de venda de vigilância? Estaremos do lado dos que desprezam as queixas das mães que perderam seus filhos assassinados para proteger a corporação policial que comandam? Estaremos do lado dos que tratam os favelados como marginais e fazem conluios políticos com bandidos de colarinho branco, atacando os primeiros para defender os abusos dos segundos? Estaremos do lado da produção permanente, maciça e violenta de uma cidade baseada na segregação, na injustiça e em fronteiras que separam seus habitantes entre os “mal-protegidos” e os “sempre matáveis”? Estaremos do lado daqueles que acham que os criminosos de colarinho branco não precisam ser humilhados com o uso de algemas e que os negros das favelas podem ser amarrados, semi-nus, e postos em jaula e serem atacados e mortos pelo Caveirão? Que futuro terá esta cidade quando se silencia e se aprova esta política hoje dominante no Rio de Janeiro?

Texto sintese de pesquisas e embassado no trabalho da professora Patricia Birman que não tem vinculos com o referido núcleo politico, mas tem glorioso trabalho em causas e demandas sociais.

Lula e os banqueiros de olhos azuis

nota da edição:


Tal como Alberto Dines escreveu recentemente e comentou na TVE, é bobagem querer inventar um racismo positivo, se é que exista tal possibilidade, quanto aos inimigos das ideias progressistas sejam estes verdes, pretos, olhos felineos,etc ,etc.O que vale mesmo é o teor da ideia central do texto em sim, onde o simplismo de nosso presidente não pode ser confundido com inapetencia, bem como, ingenuidade para lidar com os 'grandes' do mundo

Abraços.

Lula e os banqueiros de olhos azuis

Foi sensato o comentário de B. Mull, da Califórnia, recomendado pelos editores do Times e por 184 leitores (até 7 da noite de domingo): “Por que é tão engraçado um operário, torneiro mecânico, ser presidente? Por que é tão divertido Lula dizer o que bilhões de pessoas pensam hoje? Aposto que não ia parecer piada se parentes de vocês estivessem morrendo de cólera porque em Nova York um banqueiro irresponsável decidiu brincar de roleta e falir o país deles.” O artigo é de Argemiro Ferreira.
Que me desculpem os tucanos (e demo-pefelês) , mas a cada gesto ou palavra do nosso imprevisível torneiro mecânico sem dedo e monoglota que choca o mundo, menos por soar ofensivo do que por oferecer a franqueza dura da verdade, não consigo deixar de pensar na humilhação de FHC, o farol de Alexandria, que se orgulha de ter feito tanto para enfeitar a imagem de seu país aos olhos dos ricos do mundo.

Essa reflexão é sugerida pela coluna bem humorada de Maureen Dowd, no New York Times de domingo, sobre o desabafo de Lula contra os banqueiros gananciosos de olhos azuis que criaram a atual crise mundial (título: “Blue Eyed Greed?”). Referiu-se ainda ao ataque do império Murdoch de mídia (New York Post, “Fox News”), que chamava Saddam de “açougueiro de Bagdá” e agora chama Lula de “Brazil nut” e “Lula lulu”.

Pobre FHC, deve estar corado de vergonha. É admirável o esforço dele para vender um Brasil culto aos ricos e sofisticados, convencendo- os de que não somos bugres como eles imaginam. Não viveram aqui Villalobos, Machado, Drummond, Niemeyer, Portinari? E quantos países tiveram a honra de eleger presidente um sociólogo, PhD e tudo, ainda hoje ativo e faturando feitos acadêmicos, honorários ou não?
Uma mudança de qualidade

Era comovente, no passado recente, o esforço da presidência FHC para paparicar a banda desenvolvida do mundo - como se isso nos tornasse parte dela, com nossa respeitável bagagem intelectual. Clinton conseguiu dele, pelo telefone, o contrato do Sivam para a Raytheon. Bush não falava diretamente mas mandava bagrinhos tipo John Bolton exigir a cabeça de embaixadores como José Maurício Bustani.

Uma vez, ao desembarcar nos EUA, FHC deparou com anúncio de página inteira da indústria farmacêutica no Wall Street Journal acusando o Brasil de “pirata de patentes”. Prometeu dobrar o Congresso e aprovar a lei exigida pela indústria. Cumpriu. Depois veio a onda de privatizações, uma orgia romana. E o que resultou de tantos agrados? Elogios a ele na TV. De Barbara Walters, Lou Dobbs, essa gente.
Tem sido assim há décadas com governantes do que os EUA chamam de “países amigos” do continente. Hoje é diferente. O recado mudou. Passamos dos agrados com lamúrias ao realismo da cobrança, em outro tom. Quando o país faz o dever de casa, pode falar grosso - e questionar. E se passou a exercer papel relevante em fóruns internacionais e sua liderança política é respeitada, o quadro muda.

Ironia é bom mas não imprime

No salão Oval da Casa Branca, dia 14, Lula falou como um presidente que já tem o que mostrar no campo da energia alternativa - pois já começou a realizar uma das promessas do presidente dos EUA aos americanos na campanha. “Acho que o Brasil demonstra extraordinária liderança em biocombustíveis. Sou um grande admirador do que fez o presidente Lula para desenvolvê-los” , reconheceu Obama.

Lula foi franco. Disse não entender porque, quando o mundo está preocupado com mudanças climáticas e com as emissões de gases que causam o efeito estufa, são impostas tarifas ao combustível limpo, como o etanol brasileiro (não mérito apenas de seu governo, como observou, mas um trabalho de “30 anos de controle tecnológico e know-how nesse campo”).

Mesmo declarando admiração pela “liderança progressista” de Lula na América Latina e no mundo, Obama respondeu que a situação das tarifas sobre o etanol não mudaria da noite para o dia, mas pode ser resolvida na medida em que evolua a troca de idéias sobre o comércio. O que foi entendido por Lula como “um processo”, no qual outros países, aos poucos, vão somar-se ao esforço.

Volto à colunista do Times. Ironia é seu forte. Mas como ironia não imprime, ela acabou castigada nos comentários de leitores da versão online. Eles não acharam graça no ressentimento de Dowd (que tem olhos castanhos) contra os próprios irmãos, de olhos azuis. E ela ainda citou os abomináveis olhos azuis de Bush e Cheney (chamada a ratificar, a filha do ex-vice, Liz Cheney, alegou com humor ser a informação “classificada” ).


A colunista contou mais histórias sarcásticas. Mas a reação dos leitores foi implacável. Suspeitei da cor dos olhos deles, já que foram levados a ver um racismo abjeto nas palavras de Lula. “É uma referência aberta e direta à expressão racista ‘demônio de olhos azuis’. E ao dizê-lo ele sabia muito bem disso”, esbravejou Katherine, de Atlanta, num comentário elogiado por mais 29 leitores.
Havia muita irritação e mau humor nessa e em outras críticas ao suposto racismo de Lula. Estranhei. Que diabo, essa mesma elite branca (supostamente de olhos azuis) inventou a campanha contra os odiados “politicamente corretos”, horrorosamente favoráveis ao que é justo e honesto. Ela julga ter conquistado, entre outras coisas, o direito de usar expressões racistas ofensivas a negros, índios, asiáticos e minorias em geral.

De qualquer forma, foi sensato o comentário de B. Mull, da Califórnia, recomendado pelos editores do Times e por 184 leitores (até 7 da noite de domingo): “Por que é tão engraçado um operário, torneiro mecânico, ser presidente? Por que é tão divertido Lula dizer o que bilhões de pessoas pensam hoje? Aposto que não ia parecer piada se parentes de vocês estivessem morrendo de cólera porque em Nova York um banqueiro irresponsável decidiu brincar de roleta e falir o país deles.”