sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Chapas nacionais do PED 2009 PT Rio

Contraponto

Esta Chapa Nacional representa o pensamento político de um conjunto de companheiros e companheiras filiados do Partido dos Trabalhadores que compõem a Tendência Brasil Socialista, dirigentes e militantes petistas do MLST, os mandatos parlamentares dos Deputados Federal Elismar Prado e Estadual Weliton Prado (ambos do Estado de Minas Gerais) e militantes de coletivos estaduais do PT.



Esquerda Socialista

Queremos um governo democrático-popular, capaz de derrotar a ditadura do capital financeiro e realizar reformas estruturais, colaborando para a abertura de um novo ciclo histórico. Trata-se de dar sentido prático para a reafirmação do socialismo como objetivo estratégico, feita pelo 3º Congresso do PT, construindo um programa de reformas e uma estratégia de poder que apontem para a superação prática das relações capitalistas realmente existentes em nosso país.



Mensagem ao Partido

O PT guarda enormes energias renovadoras para impulsionar novas mudanças no país. Por isso é que propugnamos por transformações necessárias, para que ele possa continuar correspondendo por muito tempo ao seu papel histórico no Brasil. incidente sobre a esquerda socialista no mundo. Por um PT com voz firme e ativa!



Movimento: Partido para Todos
Vamos construir um partido para todos. Um partido que busca a intervenção unificada de seus militantes nos movimentos sociais, que se envolve com as causas do povo, das causas indígenas à agenda da sustentabilidade, da intervenção no Fórum Social Mundial às causas da juventude, das mulheres, do movimento negro e LGBT. Um partido que soma as diferenças para construir a luta do povo. Um partido que fortalece as instâncias de base e Diretórios Municipais, com devido acompanhamento das direções estaduais e nacionais.



Movimento Popular

Nossas propostas estão baseadas nas resoluções do encontro nacional de movimentos populares e políticas setoriais do PT. Elas balizam a nossa compreensão de programa político a ser definido pelo nosso partido.



O Partido que Muda o Brasil

força e a amplitude das transformações promovidas por nosso governo desde janeiro de 2003 não seriam as mesmas sem o PT. O Partido dos Trabalhadores, desde a sua fundação, luta pela superação das desigualdades, pela ampliação da democracia, pela construção de um país mais justo e soberano. O PT não sucumbiu ao canto daqueles que pregaram o fim da história e o fim da política e que, sem nenhum pudor, admitiram que milhões de brasileiros estariam irremediavelmente apartados do crescimento econômico e de uma vida digna. O PT em seus 30 anos de existência foi fundamental para denunciar as desigualdades e a exclusão, o autoritarismo, os ataques aos direitos humanos e sociais. O PT nesses anos formulou um programa para o país tendo como ponto de partida o socialismo democrático. Constituiu-se, por seu compromisso com a justiça, a liberdade e a autodeterminaçã o dos povos, em referência para a esquerda mundial, particularmente na América Latina, onde tem empenhado o melhor de seus esforços visando à integração regional.



Partido Para Todos


O PT PARA TODOS - UNIDADE NA DIVERSIDADE é um movimento que tem como objetivo ajudar a desbloquear relações, combater a intransigência e buscar uma convivência mais sadia dentro do PT. PT PARA TODOS não é apenas uma força de expressão. Queremos um PT cada vez mais amplo, mais democrático e com uma vida interna intensa e saudável, centrada em debates essenciais sobre os programas, sobre a linha política e as ações do partido.



Terra, Trabalho e Soberania

Junto com outros petistas de diferentes trajetórias no partido, apoiamos o Fórum Nacional de Diálogo Petista que começa a se firmar como instrumento de discussão e ação de petistas, para além da disputa do PED.
Agora, neste momento, chamamos a votar por uma política petista para o PT, votar por Terra Trabalho e Soberania!



Virar à Esquerda! Reatar com o Socialismo!

Convidamos todos os companheir@s filiados do PT a se juntar ao nosso combate, enriquecer esta proposta de Tese com suas sugestões e organizar conosco uma chapa nacional, marxista e revolucionária para virar à esquerda. Vamos construir chapas em cada município, em cada zonal, em cada estado, para fazer ressurgir com a força que tem no interior de nosso partido, a voz do socialismo revolucionário, que está na origem da criação e força do Partido dos Trabalhadores.



MAIS INFOMAÇÕES SOBRE O PED 2009: http://ped.pt. org.br/site/ index.php


PT sempre 13!
Trabalho,Terra e Liberdade

Senador ALOIZIO MERCADANTE

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (Bloco/PT - SP)

Em uma sexta-feira, que é um dia, geralmente, vazio aqui no Plenário, eu venho para fazer um pronunciamento difícil e muito importante na minha história. Subo a esta tribuna com um sentimento que não é só meu. Acho que é o sentimento da maioria do povo brasileiro neste momento que, em relação ao Senado Federal, sente desilusão, sente – eu diria – descrença política. Esse não é um sentimento qualquer. É um sentimento no qual temos de nos debruçar, compreender, reconhecer e buscar respostas a este cenário.

Este sentimento que ficou muito consolidado a partir da decisão do Conselho de Ética de não aprofundar nenhuma investigação em relação a tantas denúncias que nós tivemos neste período. Eu subo a esta tribuna com um sentimento a mais: o sentimento da frustração. A frustração de um homem público e de um Líder de uma Bancada que lutou... E eu lutei com todos os instrumentos e com a força que tinha para construir um caminho alternativo a esta crise do Senado. Nunca aceitei o caminho fácil da condenação sem defesa, do pré-julgamento, do tribunal de exceção, porque esse não é o caminho da democracia – ainda que seja mais fácil, do ponto de vista eleitoral. Sempre é mais fácil!

Ainda que seja mais fácil, do ponto de vista eleitoral. Sempre é mais fácil mas esta Casa, - como dizia Tocqueville - a função fundamental do Parlamento é preservar as garantias e direitos individuais seja de quem for e não há garantia dos direitos sem o devido processo, sem o direito de defesa e sem a apuração rigorosa das denúncias.

Disse – e a minha Bancada sustentou – que o melhor caminho era a licença do Presidente José Sarney, uma licença voluntária, num gesto de grandeza, para preservar o Senado e uma apuração rigorosa, especialmente daquilo que diz respeito ao Senado que é a nossa maior responsabilidade. Porque as denúncias que estão fora desta Casa – o Procurador Geral da República já disse: “Não há indícios para abrir uma investigação para o Senador José Sarney”. Ora, se o Procurador Geral da República que está acompanhando todas essas denuncias e coordenando esse Processo traz essa afirmação em público, o Senado, evidentemente, tem que aguardar a conclusão dessas investigações. Mas os Atos Secretos violam o art. 37 da Constituição – o princípio da transparência e da publicidade.

Um compromisso primeiro desta Casa é o respeito aos princípios constitucionais. Nós tínhamos que nos debruçar sobre esta questão e não nos debruçar pelo caminho fácil de que o único responsável é o Presidente José Sarney, ainda que ele tem uma grande responsabilidade porque é o terceiro mandato como Presidente desta Casa. São mais de 14 anos em que isto vinha acontecendo e a apuração, a transparência e o rigor nessa matéria era o caminho para o Senado ir a fundo nas suas entranhas e se reformar, profundamente, como instituição. É evidente que o Senado é fundamental para a República.

É evidente que o Senado é fundamental para a República, é só olhar para a história do Brasil. Em 183 anos nós não seríamos o que somos como Nação se não houvesse aqui algum equilíbrio entre os estados mais pobres e os estados mais ricos, como o meu estado. É isso o que faz os pequenos estados, pobres estados da Federação, manterem o equilíbrio desta Casa e deste país.

Mas o Senado, depois de 183 anos, acumulou vícios inaceitáveis para um país que se modernizou, para uma cidadania que se fortaleceu, um país que quer menos desperdício, mais rigor com o gasto público, mais austeridade, mais transparência, mais controle social. Essa é uma pauta de que não vamos escapar e da qual não temos o direito de escapar, porque nós temos de deixar esta Legislatura com um Senado reformado profundamente, modernizado, novo, para que, seja quem vier, nós passemos um Brasil melhor e esta Casa possa contribuir coma Nação.

Depois da decisão do Conselho de Ética fiz uma breve reunião com a minha bancada e disse a eles: o meu sentimento mais profundo, a minha vontade neste momento é de deixar a liderança, porque não tivemos força para construir um caminho alternativo. Esbarramos na maior bancada do Senado, que é o PMDB, que teve um papel fundamental nesse processo. Esbarramos, infelizmente, no apoio que o meu governo e a direção do meu Partido deram a essa resposta que foi dada e que não era a posição da nossa bancada, não foi nunca a minha posição. Conversei com o Governo e conversei com o Partido ao longo desse processo pedindo apoio para esse caminho, equilibrado, responsável.. . de uma apuração que não fosse, simplesmente, um objeto do interesse político-eleitoral da Oposição, que evidentemente existiu em tudo isso. O alvo sempre foi o PT. O alvo é o Presidente Lula, porque essa é a disputa maior que se avizinha para o ano que vem, mas o que acontece no Senado não é só um problema de disputa eleitoral. E aí, como Senador, cada um de nós tem uma responsabilidade específica que nós não podemos deixar de considerar.

A Bancada, o Senador Tião Viana, o Senador Paulo Paim, Senador Suplicy, que adiou inclusive a ida dele para São Paulo para está aqui hoje e eu não consegui chegar mais cedo, agradeço muito toda a atitude que ele teve ao longo de todo esse processo, Senador Augusto Botelho, que está aqui, agradeço, que também adiou a sua ida para poder estar aqui hoje, nesta manhã, Senadores todos da nossa Bancada, Senadora Fátima Cleide, que me ligou e não foi à reunião, mas me dando apoio e solidariedade, Senadores todos que estiveram ali, Senadora Serys, Senador João Pedro, que foi à reunião, todos eles que estavam lá falaram: Mercadante, não é esse o caminho, você tem que ficar com a Bancada, você tem que continuar na Liderança.

Expressaram isso publicamente e pediram com muita sinceridade que eu ficasse, especialmente num momento muito difícil para a própria Bancada, porque a Marina não é um quadro qualquer. Marina tem uma história de trinta anos comigo neste Partido e ela representa uma agenda importante para o Brasil, uma agenda que eu queria dentro do meu Partido, porque ela existe dentro do meu Partido. Mas, ela escolheu o caminho de fazer uma disputa eleitoral em cima de compromissos que ela sempre teve.

O Senador Flávio Arns, que veio para o PT na última eleição e que contribuiu na nossa Bancada – e, mesmo com as diferenças que nós possamos ter tido como Bancada com ele, mas que contribuiu com a nossa Bancada ao longo desse período – também, nesse episódio, encontrou o caminho para deixar o PT.

Deixar o PT nunca passou pelo meu coração nem pela minha cabeça. Eu sou petista antes de o PT existir. Quando lá estava, no Colégio Sion, em 1980, eu estava ali e éramos um grupo muito pequeno de brasileiros e de brasileiras, de sindicalistas, de uma esquerda que tinha resistido à ditadura, de lideranças de base das igrejas, de intelectuais que tinham sido exilados e resistido, como Florestan Fernandes, Paulo Freire e tantos que passaram pela nossa caminhada. Estávamos ali, com lideranças como Chico Mendes, alguns que foram assassinados pelos valores que defenderam ao longo da história, construindo uma utopia. Ali, naquele momento da história, ninguém foi para o PT para ter um cargo, muito menos imaginando ter um mandato. Nós fomos por um compromisso com o Brasil, um compromisso muito profundo de vida e que, para muitos de nós, custou muito. Não foi fácil chegar aonde nós chegamos e percorrer o caminho que percorremos. Eu estou desde a primeira hora, fiz todas as campanhas do Presidente Lula. Em 1982, eu andava com ele o Estado de São Paulo inteiro. Em 86, eu coordenava a campanha dele, era um dos coordenadores da campanha para Deputado Federal quando ele foi o candidato mais votado. Fiquei 7 anos para fundar a CUT e construir uma central sindical e nunca imaginei disputar uma eleição.

E nunca imaginei disputar uma eleição. Nunca tive isso como meta na minha vida. Meu compromisso não era esse. Eu era um professor, economista que tinha um compromisso com o Brasil. Na campanha de 1989, quando andei pelo Brasil todo com o Presidente Lula, eu ganhei uma visibilidade que eu não esperava. Naquele momento, eu tinha ganhado uma bolsa de estudos para ir para fora do Brasil estudar a integração européia, a união européia que eu achava que era o caminho da América do Sul. E não fui. Não fui porque, em 1990, em 1988, o Presidente Lula pediu para eu ficar para a campanha e, quando terminou a campanha, ele falou: “Não, Mercadante, fica; ajude a montar a minha campanha para Deputado Federal”. Nós perdemos a eleição. Eu fiquei. Um mês depois ele falou: “Eu sou candidato; você tem que ser candidato”. A minha vida mudou totalmente de rumo e eu acolhi o pedido que ele tinha feito.

Depois que eu virei Deputado, falei: bom, agora eu fiz o meu primeiro mandato, vou para o segundo. Quando estava concluindo a campanha, o Presidente Lula pediu, no meio daquela crise da campanha, falou: “Você vai ter que deixar o mandato de Deputado Federal, você tem que ser vice na minha chapa para a campanha presidencial” . Eu não discuti duas vezes. Abri mão na hora. Sabia que era uma campanha muito difícil e tive orgulho de fazer o gesto que fiz.

Nunca estive neste Partido por causa de cargo. Nunca. Vim ou imaginando que... E são muito bem recebidos os que vieram depois, quando estávamos no Governo. Mas quem começou desde a primeira hora, isso nunca foi objetivo fundamental. O objetivo era mudar o Brasil, criar uma sociedade mais justa, distribuir a renda, reforçar a ética na política. Este era o caminho fundamental: os trabalhadores serem protagonistas da história.

Com toda essa história na cabeça, vendo a dificuldade da nossa Bancada e do nosso Partido neste momento e depois da conversa com a Bancada, eu fui para a casa e não foi fácil. Não foi fácil. Não foi fácil. Meu sentimento era muito profundo de deixar a Liderança.

Minha mulher, a Regina, meu filho Pedro, a Mariana falaram: “Pai, deixa de sacrifício. Você tem pago um preço caro demais. Eu acho que você está certo, pai. Acho que você tem que estar mais com a gente e mais com você. Está ficando muito caro esse custo pessoal.”

E o custo pessoal, nessa hora, é um custo político que nós estamos pagando por uma aliança. E um custo que não pode ser pago dessa forma, muito menos por um Partido como o PT. Nós temos que preservar a aliança, mas temos que fazer uma discussão de fundo sobre os caminhos deste País, de combate ao patrimonialismo, ao nepotismo; de reforma das instituições; de transparência. Isso não pode se perder na governabilidade.

Eu disse à Bancada e pensei comigo: eu perdi uma certa condição de interlocução política nesta Casa, por exemplo com o Presidente Sarney. É evidente! É muito mais difícil ser Líder nessas condições, depois de uma crise como essa. E a partir daí eu falei: eu não vejo... Depois da conversa com a minha família, eu não vejo muita alternativa. E me dispus a vir à tribuna e renunciar.

Por obrigação histórica, liguei para algumas Lideranças, para pessoas de respeito que eu gosto e tinha obrigação de conversar. E muitos ligaram pra mim. Vários Senadores e todos os Líderes do Bloco, o Crivella, o Antonio Carlos Valadares: “Mercadante, fica! Fica. Não saia”.

Até para minha grata surpresa, Lideranças da Oposição, como o Senador Arthur Virgílio, que falou: “Reflita. Eu já fui Líder de Governo. Você não pode sair. Não é essa a sua atitude”. O Sérgio Guerra se solidarizando.

Eu conversei com a Ministra Dilma e ela disse que não concordava com a minha saída. Palocci ligou para mim, José Dirceu, com quem não falo há muito tempo, conversou na mesma direção; o Berzoini ligou e disse, publicamente, apesar de todas as diferenças que nós tínhamos, em todo esse processo, que eu não deveria sair; o João Pedro, tem ido na minha casa todos esses dias, pedindo para ficar; e a Ideli – que uma companheira que tem compromisso muito forte com esse projeto – me ligou, dizendo: Mercadante você não pode fazer isso, você tem que conversar com o Lula. E vários dizendo: - Você tem que conversar com o Lula.

O Ministro Múcio ligou, pedindo para eu conversar e marcou uma conversa com o Presidente Lula - O Presidente Lula chegou ontem à noite -, eu fui no Palácio da Alvorada e nós ficamos cinco horas conversando. Cinco horas repassando, até uma hora da manhã. Ter uma conversa franca, dura, sincera, profunda, repassando toda essa história, tudo que nós fizemos. De todo meu sentimento, que o Governo Lula é o grande êxito econômico. É um grande êxito!

Este mês a taxa desemprego do Brasil é menor do que um ano atrás. Na maior crise econômica dos últimos 70 anos este País está saindo na frente, pela competência do Governo, pela prudência, pela seriedade, que é reconhecido, hoje, pelos principais analistas de toda a economia mundial. Nós nunca enfrentamos uma crise desse tamanho, e nunca tivemos uma resposta tão competente e tão eficiente, e tão rápida que mostra o projeto de futuro que este País tem e a herança que estamos deixando na área econômica.

Disse ao Presidente Lula que tinha orgulho de tudo que nós fizemos, de vê a melhoria da vida do povo, a distribuição de renda, programas como o Bolsa Família, salário-mínimo
Salário mínimo, ProUni mudaram as condições sociais do Brasil, mudaram profundamente. Mas eu acho que nós temos cometidos erros políticos e erros que o nosso partido.. O Lula vai terminar este Governo, eu tenho absoluta convicção, mesmo nesta crise, 67% de ótimo e bom, o maior Presidente, o mais popular Presidente da história, pelo menos documentada do Brasil.

Portanto, tudo que nós seremos depois depende dele e do Governo, mas o partido vai ficar para além do Lula.

Eu estava vendo a Valentina, agora está entrando ali, o futuro dela eu quero estar lá com o meu partido construindo um Brasil diferente. Por isso, preservar o partido, cuidar do partido, rediscutir o papel do partido é um desafio fundamental. Esse partido, num momento de grave crise política em 2005, 300 mil militantes se levantaram para defender a legenda, quando todo mundo dizia que nós estávamos derrotados. E um ano depois, o Lula tinha 20 milhões de votos, vencendo as eleições. Esse é o maior patrimônio que nós conseguimos. Milhares, centenas de milhares de trabalhadores, de lideranças estudantis, de jovens, de mulheres que constroem, acreditam nesse caminho. E é essa energia, essa militância que eu quero levantar, que eu quero mobilizar. Eu quero rediscutir o caminho do partido, porque nós não podemos cometer os erros que temos cometido.

O Presidente Lula me disse muita coisa que mexe com o meu coração, com a minha história e com a minha vida. Hoje de manhã eu recebi uma carta dele que diz assim :

Brasília, 21 de agosto de 2009.

"Meu companheiro Aloizio Mercadante,


Ontem, à noite, tivemos uma longa e franca conversa, mais uma entre tantas nesses mais de trinta anos de companheirismo e amizade em comum. Você me expressou novamente, como tem feito publicamente, sua indignação com a situação do Senado Federal e suas duras críticas ao posicionamento da direção do PT nos processos do Conselho de Ética. Respeito sua posição e considero um direito legítimo você expressá-la para a militância do PT e para a sociedade, bem como continuar lutando por uma reforma profunda no Senado.

Mas não posso concordar com sua renúncia da liderança da bancada do PT. Você tem todo o apoio de nossos senadores e senadoras. A bancada e eu consideramos você, Mercadante, imprescindível para a liderança.
Não tem sido fácil construir alianças e aprovar projetos tão relevantes ao nosso governo para superarmos a grave crise da economia internacional, como estamos superando, distribuir renda, implantar novas políticas públicas e melhorar a vida do nosso povo. Todo esse processo depende do Senado. Você tem contribuído decisivamente e sua liderança é fundamental para as nossas lutas no Senado.

Mercadante, estamos juntos há trinta anos, travando as lutas que interessam ao povo brasileiro e mudando a história do País. Dificuldades e divergências fazem parte dessa caminhada, mas são menores do que ela. Em nome dessa história e dessa caminhada, fique na liderança.
Esse é o pedido sincero de um velho amigo e sempre companheiro.

Luiz Inácio Lula da Silva"


Mais uma vez na minha vida, o Presidente Lula me deixa numa situação que eu não tenho como dizer não. Não tenho. Não tenho, como não tive muitas vezes.

Eu, de forma muito sincera, quero pedir. Eu, de forma muita sincera, quero desculpas à Regina, ao Pedro, à Mariana, meus filhos, sei qual é o sentimento deles, profundo, que acham que, do ponto de vista pessoal e mesmo político eu tenho pago um preço maior do que deveria.

Mas eu tenho convicção, convicção profunda, que, mesmo que seja alto, alguns, seguramente, são decorrentes dos meus erros, das minhas deficiências, mas esse sacrifício ajuda a mudar a vida de milhões de pessoas, a fazer um Brasil melhor. E esse Governo Lula fez este Brasil, está construindo este País.

Por isso, como diz o Presidente, dificuldades e divergências fazem parte da nossa caminhada, mas são menores do que ela.

Eu não tenho como dizer não ao Presidente.E eu termino com uma frase de M Joyce: “Os erros dos homens podem ser portas de novas descobertas”.

Esta Casa errou, o meu Governo errou, o meu Partido errou, nós erramos, eu errei, porque essa não é a solução que o Brasil espera e precisa.

Só espero que aprendamos, sinceramente, com esses erros e sejamos capazes de construir novas descobertas. E Dom Moacyr Grechi, que é um Bispo muito importante no Norte do País, disse que quando a gente está remando uma canoa num rio e entra água a nossa atitude não deve ser pular da canoa, deve ser tapar o buraco. Essa é a primeira atitude, tapar o buraco. Por isso eu vou continuar a minha luta dentro do PT. Quero levar esse debate para as bases do PT, quero mudar o rumo do PT, quero que o PT ajude a mudar o rumo do governo na política e sustentando todos avanços econômicos e sociais.

Peço a muitos companheiros e companheiras que acho que pedem a minha saída hoje, especialmente a minha família, sinceras desculpas, mas, com a história que tenho com o Lula, com a minha história de militância, com o que nós fizemos juntos e podemos fazer juntos pelo Brasil, eu não posso dizer não ao Presidente da República e ao meu velho companheiro Luiz Inácio Lula da Silva. Muito obrigado.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Carta de Marina Silva ,ao deixar o PT

(sem comentarios)

Caro companheiro Ricardo Berzoini,

Tornou-se pública nas últimas semanas, tendo sido objeto de conversa fraterna entre nós, a reflexão política em que me encontro há algum tempo e que passou a exigir de mim definições, diante do convite do Partido Verde para uma construção programática capaz de apresentar ao Brasil um projeto nacional que expresse os conhecimentos, experiências e propostas voltados para um modelo de desenvolvimento em cujo cerne esteja a sustentabilidade ambiental, social e econômica.

O que antes era tratado em pequeno círculo de familiares, amigos e companheiros de trajetória política, foi muito ampliado pelo diálogo com lideranças e militantes do Partido dos Trabalhadores, a cujos argumentos e questionamentos me expus com lealdade e atenção. Não foi para mim um processo fácil. Ao contrário, foi intenso, profundamente marcado pela emoção e pela vinda à tona de cada momento significativo de uma trajetória de quase trinta anos, na qual ajudei a construir o sonho de um Brasil democrático, com justiça e inclusão social, com indubitáveis avanços materializados na eleição do Presidente Lula, em 2002.
Hoje lhe comunico minha decisão de deixar o Partido dos Trabalhadores. É uma decisão que exigiu de mim coragem para sair daquela que foi até agora a minha casa política e pela qual tenho tanto respeito, mas estou certa de que o faço numa inflexão necessária à coerência com o que acredito ser necessário alcançar como novo patamar de conquistas para os brasileiros e para a humanidade. Tenho certeza de que enfrentarei muitas dificuldades, mas a busca do novo, mesmo quando cercada de cuidados para não desconstituir os avanços a duras penas alcançados, nunca é isenta de riscos.

Tenho a firme convicção de que essa decisão vai ao encontro do pensamento de milhares de pessoas no Brasil e no mundo, que há muitas décadas apontam objetivamente os equívocos da concepção do desenvolvimento centrada no crescimento material a qualquer custo, com ganhos exacerbados para poucos e resultados perversos para a maioria, ao custo, principalmente para os mais pobres, da destruição de recursos naturais e da qualidade de vida.

Tive a honra de ser ministra do Meio Ambiente do governo Lula e participei de importantes conquistas, das quais poderia citar, a título de exemplo, a queda do desmatamento na Amazônia, a estruturação e fortalecimento do sistema de licenciamento ambiental, a criação de 24 milhões de hectares de unidades de conservação federal, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e do Serviço Florestal Brasileiro. Entendo, porém, que faltaram condições políticas para avançar no campo da visão estratégica, ou seja, de fazer a questão ambiental alojar-se no coração do governo e do conjunto das políticas públicas.

É evidente que a resistência a essa mudança de enfoque não é exclusiva de governos. Ela está presente nos partidos políticos em geral e em vários setores da sociedade, que reagem a sair de suas práticas insustentáveis e pressionam as estruturas públicas para mantê-las.

Uma parte das pessoas com quem dialoguei nas últimas semanas perguntou-me por que não continuar fazendo esse embate dentro do PT. E chego à conclusão de que, após 30 anos de luta socioambiental no Brasil – com importantes experiências em curso, que deveriam ganhar escala nacional, provindas de governos locais e estaduais, agências federais, academia, movimentos sociais, empresas, comunidades locais e as organizações não-governamentais – é o momento não mais de continuar fazendo o embate para convencer o partido político do qual fiz parte por quase trinta anos, mas sim o do encontro com os diferentes setores da sociedade dispostos a se assumir, inteira e claramente, como agentes da luta por um Brasil justo e sustentável, a fazer prosperar a mudança de valores e paradigmas que sinalizará um novo padrão de desenvolvimento para o País. Assim como vem sendo feito pelo próprio Partido dos Trabalhadores, desde sua origem, no que diz respeito à defesa da democracia com participação popular, da justiça social e dos direitos humanos.

Finalmente, agradeço a forma acolhedora e respeitosa com que me ouviu, estendendo a mesma gratidão a todos os militantes e dirigentes com quem dialoguei nesse período, particularmente a Aloizio Mercadante e a meus companheiros da bancada do Senado, que sempre me acolheram em todos esses momentos. E, de modo muito especial, quero me referir aos companheiros do Acre, de quem não me despedi, porque acredito firmemente que temos uma parceria indestrutível, acima de filiações partidárias. Não fiz nenhum movimento para que outros me acompanhassem na saída do PT, respeitando o espaço de exercício da cidadania política de cada militante. Não estou negando os imprescindíveis frutos das searas já plantadas, estou apenas me dispondo a continuar as semeaduras em outras searas.

Que Deus continue abençoando e guardando nossos caminhos.

Saudações fraternas,

Marina Silva”PT sempre 13!
Trabalho,Terra e Liberdade

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Marina decide em Rio Branco se será candidata.Pelo PV.

De: Altino Machado, no Terra Magazine:


A senadora Marina Silva (PT-AC) desembarca nesta sexta-feita em Rio Branco, onde nasceu, tendo de cor uma lista de amigos e companheiros que serão ouvidos para tomar a decisão que considera a mais difícil da vida dela: abandonar 30 anos de militância petista, se filiar ao PV, participar da “refundação programática do partido” e se tornar candidata a presidente da República.

Após entrevistá-la, o Blog da Amazônia consultou Fábio Vaz de Lima, marido da senadora e um dos secretários mais influentes na gestão do governador do Acre Binho Marques (PT), para saber dele se Marina Silva está mesmo disposta ao desafio ou apenas vai surfar na onda de um convite que já mobiliza os verdes do mundo inteiro.
- Sou contra a saída dela do PT e já expus todas as minhas razões. Mas a maneira como tem se conduzido até aqui me dá a certeza de que a Marina já tomou uma decisão.

É possível até que ofereçam para ela a presidência do PV. Sendo assim, vou acompanhá-la, pois sou capaz disso em quaisquer circunstâncias - afirmou Fábio Vaz de Lima.
Antes da entrevista, Marina Silva fez questão de ponderar que tem procurado “ser o máximo econômica possível” por conta do momento de uma decisão vital em sua trajetória, mas não economizou palavras para defender a necessidade de compromissos com a utopia na política:

- Eu me mobilizo pelo avivamento da utopia para a economia do século XXI. É esse trânsito que precisa ser feito e que não existe em lugar nenhum, precisa ser criado para algo diferente.

- Não estou fazendo cálculos. Se eu ficasse fazendo cálculo de tempo em programa eleitoral, jamais teria sido candidata. Você sabe que já fui candidata com um tempo de um minuto, que tinha que ser dividido com o Chico Mendes. Trinta segundos para ele e trinta segundos para mim. Tínhamos que nos apresentar ao vivo. Isso não tem nada pragmático. Prefiro continuar acreditando que o sonho remove montanhas. Foi isso que fizemos em 30 anos. Removemos algumas montanhas, mas não removemos outras porque não nos expusemos com a radicalidade necessária.

- Não vou me iludir achando que alguém que lida com temas considerados secundários ou de minorias, possa colocar em risco uma candidatura que tem todo o peso e respaldo que tem a candidatura da ministra Dilma. Eu estaria sendo pretensiosa se eu embarcasse nessa avaliação.

- Todas as pessoas que estão sabendo disso e que me conhecem, sabem que não se trata de um processo fácil. Mas a história se faz por homens e mulheres que se dispõem a transformá-la. Essa transformação não prescinde a contribuição do sujeito. Neste momento estou vivendo uma dupla situação: a do sujeito que precisa se colocar e, ao mesmo tempo, do agente que sabe que as mudanças não acontecem única e exclusivamente pela ação dos indivíduos.

A seguir, a entrevista de 23 minutos, por telefone, após uma palestra de Marina Silva num evento da CUT em São Paulo:

O que a senhora considera essencial, quais salvaguardas julga necessárias para que possa aceitar ser candidata a presidente da República pelo PV?

Não estou colocando as coisas em termos de candidata. O que me motiva a fazer essa discussão são os desafios e questionamentos que venho fazendo ao longo de alguns anos de que o Brasil está maduro para assumir os desafios da sustentabilidade em todas as suas dimensões como algo estratégico para o país. Como ele pode dar esse passo, fazer esse trânsito, é isso que tem me mobilizado. Tanto é que toda a minha gestão no governo Lula foi levantando essa questão, isto é, da política ambiental como centro das políticas.

Mas o PV a convidou para ser candidata a presidente da República.

Logicamente, a questão que o PV me colocou, o convite que me faz, me deixa honrada, mas o que está me mobilizando são projetos, idéias, sem estar ancorada em cálculos de pesquisas de opinião. Não estou sendo movida por uma questão meramente eleitoral. Ouvi o PV no contexto daquilo que os seus dirigentes e militantes estão falando, que consiste em organizar, em outubro, um processo de refundação programática do partido, onde sairia da lógica do processo de fundação, que veio da Europa, de partido verde tradicional, para a idéia de um partido que colocaria no centro de suas questões estratégicas o desenvolvimento sustentável. A minha reflexão é no sentido de que essa questão não é algo que vai ser resolvida por um partido que possa homogeneizar a sociedade para fazer essa mudança. Não é isso. É algo que demanda um debate na sociedade e que todos os partidos têm que assumir essa questão como estratégica. Eu me mobilizo para o avivamento da utopia para a economia do século XXI. É esse trânsito que precisa ser feito e que não existe em lugar nenhum, precisa ser criado para algo diferente.

Mas tudo isso não passa pela política eleitoral também?

Isso é política, claro. O que eu quero dizer é que a questão eleitoral de ser candidata a senadora ou eventualmente candidata a presidente da República é parte dessa estratégia. Correto? Não é que seja um fim em si mesma a eleição. Se existe alguém que não começou tendo a eleição como um fim em si mesma somos nós numa trajetória de 30 anos no PT. Tivemos que perder muitas vezes para que se pudesse ganhar. Se tivéssemos feito o cálculo pragmático, eu nunca teria saído candidata nem para vereadora de Rio Branco. Então a questão não é meramente eleitoral, mas do movimento que se pode colocar em curso. Essa é a reflexão que estou fazendo. Não estou subordinando isso a qualquer pesquisa de opinião ou qualquer outra coisa, com uma candidatura. Obviamente, a questão da candidatura está posta porque nessa agenda tem a disputa eleitoral e ela é importante e estratégica e precisa assumir isso no centro do debate de todos os partidos.

As pessoas sempre acham que qualquer movimento que se faz é para ser contra alguma coisa. Meio ambiente reelabora a política porque é o movimento que se pode fazer a favor. Ser a favor da proteção das florestas é bom para todo mundo, assim como ser a favor da redução das emissões de carbono, de uma agricultura que seja sustentável, o que é bom para a própria agricultura e para a balança comercial. Essa interpretação de que a política só se faz pela negação está sendo reposicionada pelo meio ambiente. É possível fazer política pela a afirmação, para criação daquilo que ainda não existe em país nenhum. O Brasil, por ter as melhores capacidades, pode fazer essa inflexão. É isso que mobiliza.

A senhora sonha em repetir o fenômeno Barack Obama?

Não, não. Eu não pretendo isso. Não sou eu quem tenho essa avaliação. Acho que o tema está posto na sociedade e a sociedade demanda compromisso com ele. Eu me movimento para que o tema ambiental tenha o lugar que precisa ter dentro do Brasil e em todos os lugares do mundo. O presidente Obama está fazendo um movimento e ele vai liderar essa agenda se persistir mesmo. Obama é como aquele super-atleta que ficou fora do jogo durante muitos anos, mas faz a diferença quando entra no time decidido a jogar pra valer.

O PV lhe deu um prazo para obter a sua resposta?

Não, não me deram um prazo. Os prazos, digamos, são os prazos legais. Estou vivendo um momento de muito tensionamento por causa disso. Tenho uma trajetória de 30 anos de PT. Tenho minha vida ligada a esse sonho, a esse projeto, me sinto parte de todas as conquistas e de todos os problemas. O que está em questão agora é como fazer algo que possa estabelecer que as utopias do século XXI de fato possam acontecer, que a gente saia da agenda dos séculos IXX e XX e assuma o desafio civilizatório do século XXI. É isso o que é necessário.

Como reagiu o governador do Acre, Binho Marques, petista, seu maior amigo e aliado político? Ele ficou perplexo com a sua decisão?

Falei aos meus companheiros que tinha recebido convite do PV dentro dessa revisão programática, obviamente incluindo o convite para me filiar e decidir prioritariamente pela candidatura a presidente. Vou pro Acre para conversar com as pessoas, amigos e companheiros, e uma das primeiras pessoas com quem vou conversar será com o Binho. Ele me ouviu e falou que me espera para que a gente possa conversar. Falei também com o ex-governador Jorge Viana e com o senador Tião Viana. No Acre, você sabe muito bem, não existe hierarquia. Não tenho problemas com o PT do Acre.

Mas a senhora pode deixar numa posição desconfortável seus companheiros. Eles a apoiariam ou à Dilma para presidente?

Não quero antecipar essa questão. Estou num momento de reflexão e qualquer juízo de valor que eu faça de algo dessa natureza pode transparecer que já tenho uma decisão. A decisão que tenho é de que a questão ambiental precisa ser colocada como algo estratégico na agenda nacional.

Mas isso não é possível fazer a partir do PT?


Eu acho que isso precisa ser feito dentro de todos os partidos. Não dá para fazer essa mudança achando que um partido sozinho vá homogeneizar. No meu entendimento, é um movimento para que todos se comprometam com essa agenda, pois ela não está colocada com a dimensão necessária por nenhum partido.

A senhora conversou com Ricardo Berzoini, presidente nacional do PT?


Sim. Ele telefonou e pediu-me para que pudéssemos conversar. Vamos conversar quando eu voltar do Acre, após ouvir pessoas com quem tenho uma trajetória de vida. Tenho uma filha de 28 anos e o PT tem 30 anos na minha vida.

E se o presidente Lula reforçar o apelo pela sua permanência no PT?

Tenho o maior respeito e relação de companheirismo com Lula. Servi durante cinco anos, cinco meses e catorze dias ao governo dele. Não colocaria nenhum tipo de condicionante a isso, pois estou fazendo uma reflexão. Todas as pessoas que estão sabendo disso e que me conhecem, sabem que não se trata de um processo fácil. Mas a história se faz por homens e mulheres que se dispõem a transformá-la.

Essa transformação não prescinde a contribuição do sujeito. Neste momento estou vivendo uma dupla situação: a do sujeito que precisa se colocar e, ao mesmo tempo, do agente que sabe que as mudanças não acontecem única e exclusivamente pela ação dos indivíduos. O presidente Lula me chamou e eu me senti honrada de fazer parte do ministério dele. Contribui enquanto achei que tinha o necessário apoio para isso. Respeitosamente, saí do governo quando compreendi que não reunia mais essas condições. O combate que faço hoje no Senado pela agenda do desenvolvimento sustentado não é diferente do que fiz enquanto ministra do Meio Ambiente durante o tempo que permaneci no cargo. E não será diferente do que vou fazer, seja como candidata à reeleição como senadora ou como cidadã.

Na política, a senhora nunca foi de exigir, de dizer “eu quero”. A sua agenda sempre foi a agenda do consenso de seus amigos e companheiros. Neste momento, porém, está tendo que tomar uma decisão pessoal. É a decisão…Sem sombra de dúvida, é mesmo a decisão mais difícil de minha vida.

Pelo fato de ter sido sempre, digamos, objeto do consenso?

Não necessariamente. Quando um grupo resolveu que deveria permanecer no PMDB, nas Comunidades Eclesiais de Base, no Acre, e outro decidiu ficar no pólo que lutaria pela fundação do PT, isso não se deu por consenso. Quando resolvi sair do Ministério do Meio Ambiente, também não foi por consenso.

Tudo bem, mas isso se deu poucas vezes numa trajetória política com mais de 30 anos. Por que agora essa decisão é tão difícil?

Pelo tamanho do desafio e pela magnitude da decisão. Nós temos que buscar fazer essa inflexão nos modelos de desenvolvimento, nas economias dos diferentes países, fazendo com que governos e partidos, acadêmicos, formadores de opinião, se comprometam com essa agenda e coloque-a no centro do debate. Mas não como algo em oposição ao desenvolvimento, mas como parte integrante da mesma equação. Esse é o desafio. Ou isso acontece ou nós vamos chegar em meados do século com a constatação de que a gente pode ter inviabilizado as possibilidades de vida na terra. Esse movimento tem que acontecer sem que a gente perca avanços que tivemos no governo do presidente Lula, que passou de R$ 8 bilhões para R$ 28 bilhões de investimentos em política social. Conquistas como essas devem permanecer, mas existe uma agenda estratégica com a qual temos que nos comprometer.

O que acha dos comentários de que a sua candidatura poderia inviabilizar a candidatura a presidente da ministra Dilma Roussef?

Não vou me iludir com isso, pois é claramente um superestimação de minha possível candidatura. Não vou me iludir achando que alguém que lida com temas considerados secundários ou de minorias possa colocar em risco uma candidatura que tem todo o peso e respaldo que tem a candidatura da ministra Dilma. Eu estaria sendo pretensiosa se embarcasse nessa avaliação.

Mas é fato que o seu carisma é bem maior que o dela, não? Diferente da senhora, ela murcha quando discursa.

Eu não quero especular sobre isso. Ela é um quadro técnico fantástico reconhecido por todos nós.

Na sua decisão tem peso o fato de o PV não dispor de muito tempo na TV para uma eventual exposição de sua candidatura a presidente da República?

Não estou fazendo cálculos. Se eu ficasse fazendo cálculo de tempo em programa eleitoral, jamais teria sido candidata. Você sabe que já fui candidata com um tempo de um minuto, que tinha que ser dividido com o Chico Mendes. Trinta segundos para ele e trinta segundos para mim. Tínhamos que nos apresentar ao vivo na TV. Isso não tem nada pragmático. Prefiro continuar acreditando que o sonho remove montanhas. Foi isso que fizemos em 30 anos. Removemos algumas montanhas, mas não removemos outras porque não nos expusemos com a radicalidade necessária. Esses movimentos precisam ser feitos. Eles são de tamanha magnitude que não temos que ter a ilusão de que vai ser homogeneizado por um partido. Tem que ser um movimento da sociedade, dos empresários, dos políticos, dos acadêmicos, dos jornalistas, homens e mulheres, principalmente da juventude, que não se deixa aprisionar pelos projetos imediatistas, que não fica fazendo cálculos do presente, mas que coloca a contabilidade do futuro para ser resolvida agora.

Então a discussão…

A discussão é no sentido de que se crie para a economia do Brasil uma nova narrativa. Um país que tem 46% de matriz energética limpa não pode ser circundado num debate aonde outros que têm menos capacidade assumem a pró-atividade. Um país que é capaz de fazer um plano de combate ao desmatamento e reduzir 57% de emissão precisa se comprometer com metas de certificação da agricultura, precisa trabalhar para que a infra-estrutura tenha critérios de sustentabilidade, sem que isso signifique ter que sofrer os efeitos indesejáveis dessas mudanças.

Quais seriam os efeitos indesejáveis?

Que o país não possa continuar se desenvolvendo, perca empregos e oportunidades. Nós ainda temos o tempo para fazer o trânsito. Nem dá para dizer mais que não podemos perder o bonde da história. Nós não podemos é perder o trem-bala da história.

http://blogdaamazon ia.blog.terra. com.br/2009/ 08/06/marina- candidatura- a-presidencia- da-republica- como-estrategia- pela-economia- verde/

PT sempre 13!
Trabalho,Terra e Liberdade

sábado, 8 de agosto de 2009

O inconcebível Lula

FHC, o farol, sociólogo, entende de sociologia tanto quanto o governador de São Paulo pelo PSDB, José Serra, entende de economia.

*Lula, que não entende de sociologia, levou 32 milhões de miseráveis e pobres à condição de consumidores.

*Lula, que não entende de economia, pagou as contas do entreguista FHC, zerou a dívida com o FMI e ainda dá algum aos ricos…

*Lula, que não entende de educação, pois a oposição e a mídia o classificam como analfabeto e burro, criou mais escolas e universidades que seus antecessores juntos e ainda criou o PRÓ-UNI onde filho de pobre vai à universidade…

*Lula, que não entende de finanças, nem de contas públicas elevou o salário mínimo de 64 para mais de 200 dólares e não quebrou a previdência como dizia FHC…

*Lula que não entende de psicologia, levantou o moral da nação e disse que o Brasil está melhor que o mundo… mas o PIG (Partido da Imprensa Golpista) que entende de tudo acha que não…

*Lula que não entende de engenharia, nem de mecânica, nem de nada, Lula não entende de nada, reabilitou o Proálcool, acreditou no biodiesel e levou o país à liderança mundial de combustíveis renováveis…

*Lula que não entende de política, mudou os paradigmas mundiais e colocou o Brasil na liderança dos países emergentes, passou a ser respeitado e enterrou o G-8…

*Lula, que não entende de política externa nem de conciliação, pois foi sindicalista brucutu, mandou as favas a ALCA, olhou para os parceiros do sul e especialmente para os vizinhos da América Latina, onde exerce liderança absoluta sem ser imperialista, tem transito livre com Chaves, Fidel, Obama, Evo etc... bobo que é cedeu a tudo e a todos…

*Lula que não entende de mulher, nem de preto, colocou o primeiro negro no supremo (desmoralizado por brancos), colocou uma mulher no cargo de primeira-ministra e é capaz de fazê-la sua sucessora.

*Lula, que não entende de etiqueta, sentou-se ao lado da rainha Elizabeth II e afrontou nossa fidalguia branca de lentes azuis.

*Lula, que não entende de desenvolvimento, nunca ouviu falar de Keynes, criou o PAC, antes mesmo que o mundo inteiro dissesse que é hora de o Estado investir e hoje (o PAC) é um amortecedor da crise…

*Lula que não entende de crise, mandou abaixar o IPI e levou a indústria automobilística a bater recorde no trimestre…

*Lula que não entende de português nem de outra língua, tem fluência entre os líderes mundiais, é respeitado como uma das pessoas mais poderosas e influentes no mundo atual…

* Lula, que não entende de respeito a seus pares, pois é um brucutu, já tinha uma empatia e uma relação direta com Bush, notada até pela imprensa americana. E agora já tem a empatia do Obama.

*Lula, que não entende de geografia, pois nunca viu um mapa, é autor da mudança geopolítica das Américas.

*Lula, que não entende nada de diplomacia internacional, pois nunca estará preparado, age com sabedoria em todas as frentes e se torna interlocutor universal.

*Lula, que não entende nada de história, pois é apenas um locutor de bravatas, faz história e será lembrado por um grande legado dentro e fora do Brasil.

*Lula que não entende nada de conflitos armados nem de guerra, pois é um pacifista ingênuo já é cotado pelos Palestinos para dialogar com Israel.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Repúdio a "Um post racista" de Danilo Gentili!

Negro é Raiz! Consciência e Orgulho Negro

"Um sorriso negro
Um abraço negro
Traz felicidade
Negro sem emprego
Fica sem sossêgo
O negro é a raiz da Liberdade!"

A Juventude Negra do PT, JN13, vem a público manifestar seu repúdio ao jornalista-“comedian te” Danilo Gentili, que no dia 27 de julho de 2009 fez uso de seu site para expressar opiniões equivocadas, preconceituosas e racistas sobre a luta do movimento negro brasileiro . O “comediante” em questão subscreve um texto de título “Um post racista” no qual compara os negros a macacos e nos chama de burros.

O movimento negro brasileiro tem uma história marcada por muitas lutas. A primeira luta pelo fim da escravidão, a luta pelo direito ao voto e a luta cotidiana pelo acesso à Educação de qualidade e a condições de vida digna e igualitária.

Não toleraremos retrocessos! Não toleraremos um discurso que se mascara de ambição filosófico-questiona dora, mas que nada mais faz do que explicitar o racismo impregnado na mente daquele que o escreve. Não toleraremos a impunidade daqueles e daquelas que se escondem atrás de discursos de pretensão liberalizante e falsos pressupostos igualitários para questionar as formulações e reflexões dos movimentos que defendem os interesses de mais de 50% dos brasileiros.

Temos orgulhos de ser negros e negras. Temos orgulho de nossas tranças, dos costumes de nossos ancestrais, dos nossos costumes!

O "comediante" em questão, antes de verbalizar qualquer posição sobre qualquer formulação de movimentos históricos deveria ler. A leitura e a pesquisa são condições primeiras daqueles que se pretendem questionadores, pensadores, reflexivos para não cair em conclusões superficiais, amadoras ou até mesmo, burras, já que ele tem o papel de formar opinião.

Passamos por um importante momento no país. Um momento de avanços na melhoria de vida do povo negro brasileiro com a conquista das cotas com recorte étnico-racial nas universidades, do sistema público de saúde estar capacitado sobre anemia falciforme, de programas para a juventude que refletem diretamente na vida de milhões de jovens negros, da criminalização do racismo, da criação de uma secretaria para tratar de políticas de promoção da igualdade racial de modo transversal, etc. E queremos mais avanços! Lutaremos pela aprovação do Estatuto da Igualdade Racial no congresso, estaremos presentes nas conferências de Segurança Pública defendendo o fim do genocídio da juventude negra (a mais afetada com a violência), de Educação por melhorias no ensino básico e pela inclusão do povo na universidade e de Comunicação defendendo as rádios comunitárias, democratização dos meios de comunicação, maior diversidade étnico-racial e cultural nos meios de comunicação, etc.

Estamos atentos e combateremos toda a expressão de preconceito que insiste em se perpetuar em nossa sociedade. Não só repudiamos como exigimos um pedido público de desculpas do repórter citado e que ele responda, nos termos da lei, por sua conduta racista!

A juventude que tem orgulho de ser negra segue sua intensa agenda de lutas e conquitas! Contra o racismo e toda forma de opressão! Por um Brasil mais justo, soberano e igualitário: Êa Juventude Negra!

Brasil, 06 de agosto de 2009.
Juventude Negra do PT - JN13

Juliana Borges

ParaTodos - Construindo um Novo Brasil
Diretora de Movimentos Sociais da UEE-SP
Coordenadora Municipal de Organização da JPT-SP/capital
JArt - Juventude Articulação Unidade na Luta

Conflito nos Andes

06/08/2009 - 00:04
Mauro Santayana

Nada nos poderá dizer Uribe que não saibamos. Ele pertence a uma oligarquia de brancos de origem europeia, que gostariam de transformar a Colômbia em estado associado norte-americano, como é Porto Rico. Não entendem esses grandes senhores que Porto Rico é uma ilha, como também o Havaí, e que o destino da Colômbia está ligado ao futuro da América do Sul, a que pertence, na história e na geografia.

A imprensa colombiana defende o presidente Uribe, afirmando que Chávez quer instalar bases russas na Venezuela. O Brasil, em razão de sua história, se opõe à presença de tropas norte-americanas em sua vizinhança e não deve aceitar as russas. Amanhã ou depois, a China talvez queira ter também suas forças no continente.

O Brasil tem toda autoridade para essa postura. Quando, na luta contra o Eixo, cedemos a projeção oriental sobre o Atlântico aos Estados Unidos, para a base de Natal, deixamos estabelecido que essa presença seria temporária, enquanto durasse a guerra. Logo depois do armistício, o governo de Truman quis negociar o arrendamento da área e a permanência das bases – já na previsão de confronto com os soviéticos. Vargas não aceitou discutir o assunto – e os americanos se foram. Durante toda a história, só sofremos, na primeira fase da guerra da Tríplice Aliança, a presença de tropas inimigas na margem esquerda do Rio Paraguai. Logo que nos foi possível, as expulsamos dali. O Brasil não admite outra bandeira sobre seu território.

O presidente Lula declarou que não podemos impedir que a Colômbia faça o que quiser em seu país. Trata-se de seu direito soberano, até mesmo, se assim o desejar, de transformar- se, de jure, em protetorado de Washington – o que já é de fato. Mas é preciso que nos reservemos o direito de tomar todas as medidas, a fim de impedir a violação de nossas fronteiras, incluídas as que se situam no espaço aéreo. Ao que se sabe, essa posição será reafirmada, com firmeza, na conversa de hoje com Uribe. Convém levar o mesmo statement ao governo de Alan Garcia. O presidente do Peru apoiou o seu colega colombiano, em termos mais do que elogiosos. É provável que o Peru de Garcia seja também candidato a acolher ianques armados em seu solo. Não façam de seu território uma plataforma para a violação da soberania dos outros países da América do Sul. E se enganam, se imaginam que podem dividir os nossos povos. Os governos são temporários, mas é imanente a consciência de que devemos continuar a construir a unidade de nossa pátria grande, da qual sejam cidadãos de pleno direito os ameríndios e os descendentes de europeus, asiáticos e africanos, que aqui aportaram nos últimos cinco séculos.

Não temos por que tomar partido no confronto verbal entre Bogotá e Caracas, mas isso não nos impede de identificar os interesses estrangeiros que se encontram por detrás dos incidentes registrados. Há sempre os que acendem o forno alheio, a fim de assar seu pão. Temos, mais do que o direito, o dever da franqueza na conversa com os vizinhos. Não somos senhores de suas portas, que podem abrir-se aos hóspedes que escolherem. Temos, porém, o dever de lhes dizer que nos incomodam quando oferecem sua casa a hóspedes que pretendem nos bisbilhotar com binóculos eletrônicos, ou cavar trincheiras junto à cerca.

Foram interesses estranhos, ligados à exploração dos recursos naturais do continente, que promoveram, no século 19, a Guerra do Pacífico, entre o Chile e o Peru, com consequências penosas para a Bolívia – que perdeu seu acesso ao mar. Naquele tempo, tratava-se da riqueza em fosfato do guano do litoral e das ilhas próximas, utilizado como fertilizante na Europa: um conflito pelo excremento de aves. No século 20, houve a Guerra do Chaco, pelo petróleo da região – e mais uma vez com o sacrifício maior dos bolivianos. É normal que Evo Morales seja definitivo na objeção à presença de tropas norte-americanas em nossas cercanias. O Barão do Rio Branco nos livrou de uma guerra com a Bolívia, no caso do Acre, e de lesão de nossa soberania no Pantanal, no caso da Colônia do Descalvado, que provavelmente nos exigiriam penosos sacrifícios para a libertação do solo pátrio. Em todos esses casos, foram os estranhos, americanos e europeus, a fomentar a discórdia, a fim de apoderar-se dos despojos.

Não aceitamos assistir, depois das guerras do Pacífico e do Chaco, a um conflito nos Andes setentrionais – e menos ainda com a presença de tropas de fora.

JORNADA UNIFICADA NACIONAL DE LUTAS

A CUT CONVOCA:

TODOS JUNTOS NA JORNADA UNIFICADA NACIONAL DE LUTAS

Dia 14/08/2009, a partir das 10h, na Candelária (concentração)

e passeata até a passarela entre a Petrobrás e o BNDES.

Trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade unidos contra a crise e as demissões ocuparão ruas, praças e avenidas no próximo dia 14 de agosto.

Nós, a CUT, as centrais sindicais e os movimentos sociais estamos convocando todos(as) dirigentes de nossas entidades filiadas, nossa militância e a população em geral para a luta contra as demissões, por emprego e melhores salários, pela manutenção e ampliação dos direitos, pela redução das taxas de juros, redução da jornada de trabalho sem redução de salários, pelas reformas agrária e urbana e em defesa dos investimentos em políticas sociais.

Não à ação oportunista de grandes empresas

No Brasil, a ação nefasta e oportunista das multinacionais do setor produtivo e de empresas como a Vale, CSN e Embraer levou à demissão de centenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras.

O governo federal que injetou bilhões de reais na economia para salvar as montadoras e as empresas de eletrodomésticos (linha branca), entre outras, tem o direito de exigir a garantia de emprego para a classe trabalhadora como contrapartida à ajuda concedida.

O povo não é culpado pela crise. Ela é resultado de um sistema que entra em crise periodicamente e transforma o planeta em imensa ciranda financeira, com regras ditadas pelo mercado. Diante do fracasso desta lógica excludente, querem que a classe trabalhadora pague pela crise. Não pagaremos !!!


Todos juntos em defesa destas bandeiras:

aNão às demissões
aEm defesa da Petrobrás e das riquezas do pré-sal
aPela ratificação das Convenções 151 e 158 da OIT
aRedução dos juros
aFim do superávit primário
aRedução da jornada de trabalho sem redução de salários
aReforma agrária e urbana
aFim do fator previdenciário
aPor saúde, educação e moradia
aPela continuidade da política de valorização do salário mínimo.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A Esquerda: Por que ainda somos diferentes

Apoiado no fim do "socialismo real" e em certo desencanto com o governo do PT, o pensamento conservador alardeia o fim das fronteiras entre esquerda e direita. E no entanto, elas ressurgem em toda parte: por exemplo, na resistência ao Bolsa Família, às cotas nas universidades e à ação do MST


Existem duas obras paradigmáticas à reflexão sobre a díade esquerda-direita, ambas publicadas em 1994: Direita e esquerda — razões e significados de uma distinção política, de Norberto Bobbio e Para além da esquerda e da direita, de Anthony Giddens. Os dois autores, cada qual à sua maneira, buscavam refletir sobre os rumos a serem tomados pelos órfãos do socialismo que, no imediato pós-Guerra Fria, estavam epistemologicamente enlutados pelo que percebiam ser o fim de suas utopias mais caras, ainda sob o impacto do mundialmente famoso artigo de Francis Fukuyama – "O fim da história e o último homem", de 1992. Bobbio defendia a legitimidade da díade esquerda-direita para analisar e entender o cenário político atual. Já Giddens acreditava que o mundo mudou radicalmente e que, por isso, os conceitos de esquerda e direita são anacrônicos. Fukuyama, por fim, dizia acreditar que a humanidade chegara ao seu estágio máximo de evolução com a universalização da democracia liberal ocidental.

Uma obra menos conhecida entre os brasileiros, até mesmo porque não foi traduzida para o português, é La Droite et la Gauche – Qu’est-ce qui les distingue encore? [A Direita e a Esquerda - O que ainda as distingue], de Claude Imbert, diretor de redação da revista Le Point e Jacques Juliard, articulista da revista francesa Nouvel Observateur. O livro, de 1995, é construído na forma de um diálogo respeitoso e construtivo entre dois amigos. Imbert representa o pensamento “de direita” e Julliard o pensamento “de esquerda”. Nessa obra, os autores apresentam um panorama crítico e intelectualmente impecável do que vem a ser a direita e a esquerda num mundo onde a clivagem ideológica bipolar não mais existe.

Podemos pensar que algumas bandeiras da esquerda tradicional sejam anacrônicas para a maioria dos países do "primeiro mundo", que já possuem redes de proteção social e uma política sólida de distribuição de renda, duramente conquistadas no período pós-Segunda Guerra.

Contudo, vemos na França de hoje uma repetição de discursos que nos são velhos conhecidos, enunciados pelo atual presidente Nicolas Sarkozy, acerca da ineficiência do Estado e da conseqüente necessidade de sua “modernização”. Se Madame Tatcher e Fernando Collor de Mello não estivessem vivos e gozando de boa saúde, era de se imaginar que estivessem encarnados no presidente francês. Ele busca, tardiamente, colocar a França nas regras ultrapassadas do Consenso de Washington, subtraindo da nação francesa um papel mais efetivo que pode, e deve, ter na discussão de alternativas ao modelo hegemônico da atualidade. Atlético, “jovem” e dinâmico, Sarkozy tenta passar a imagem do reformador valendo-se de estratégias discursivas perlocutórias, no intuito de induzir os cidadãos a concordar com a velha novidade de mudanças que visam agradar o sistema financeiro internacional.

Lula versus Chávez? Quem vê a esquerda sul-americana dividida "esquece" que a região não é homogênea

Na América Latina, por outro lado, os líderes de esquerda mais expressivos do momento, Evo Morales e Hugo Chavez, efetuam o retorno a um discurso castrista que, na visão de muitos analistas, é um anacronismo impensável dentro de padrões contemporâneos. Mas de qual contemporaneidade estamos falando? Um capitalismo predatório só pode ser amenizado com uma esquerda mais incisiva. Talvez estejamos assistindo, em tempo real, um conjunto de situações históricas de um passado que insiste em se fazer presente. Posto que a situação sócio-política da América Latina difere, e muito, daquela dos países desenvolvidos, podemos perguntar aos críticos de Chavez e Morales se conhecem as bases absurdamente arcaicas que o capitalismo ainda possui nesses países e o trabalho que seus chefes de Estado vêm fazendo no sentido de resgatar sua soberania, o poder sobre seus recursos naturais e sua dignidade no cenário internacional.

A propósito dessas diferenças, em um badalado artigo publicado na Foreing Affairs, em 2006, Jorge Castañeda se propôs a explicar ao público leitor de língua inglesa que existem duas esquerdas na América Latina – uma moderna e outra populista. O primeiro grupo teria em Lula e na presidente chilena Michelle Bachelet seus principais representantes; o segundo, seria encabeçado por Chávez e Morales. O que talvez tenha escapado à compreensão de Castañeda é que o Brasil e o Chile são países mais modernos e desenvolvidos do que o são a Venezuela e a Bolívia. Portanto, é de se esperar que nos dois primeiros a esquerda tenha modernizado seu discurso e sua plataforma. Já na Bolívia, o país mais pobre da América do Sul, e na Venezuela, que vive quase que exclusivamente de renda de petróleo, o suposto populismo do qual seus governantes são constantemente acusados talvez seja uma resposta ao populismo fundamentalista de mercado que varreu a América Latina no período crítico da globalização e que piorou significativamente os índices sociais dos países mais vulneráveis ou mais adesistas às novas orientações — como a Argentina, por exemplo.

Falando especificamente da realidade brasileira, após a ascensão do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder, as forças de esquerda passaram por uma séria crise de identidade, quase como um processo de luto da utopia perdida. Aquilo que esperavam do primeiro governo de esquerda brasileiro não se concretizou — ou seja, um reforma estrutural profunda em relação às regras rígidas do neoliberalismo mundial. Não foram poucos os intelectuais que se alternaram em posições ora extremamente críticas, ora extremamente lenientes, na avaliação do governo Lula, principalmente nos eventos recentes. Se levarmos em conta as opiniões dominantes na grande mídia, o Brasil enfim teria descoberto a corrupção, o clientelismo e outras práticas supostamente nascidas com o governo petista — malgrado os quinhentos anos de “cultura da cordialidade” que parecem ter sido esquecidos pelos neo-oposicionistas do momento.

No Brasil, cotas nas universidades e Bolsa-Família despertam o elitismo arraigado entre as elites


No Brasil contemporâneo, a díade esquerda/direita adquire caracteres bem mais amplos e sutis do que a possibilidade de uma mudança radical de um modo de produção capitalista para uma economia socialista. Existem componentes periféricos que não podem ser negligenciados nesse debate. Cabe à esquerda ficar alerta às tentativas de distorção e neutralização de seu conteúdo programático, que freqüentemente chegam disfarçadas em cientificismos, pseudo-humanismos e uma gama infinita de argumentos retóricos e assustadoramente tributários do senso comum. Ao reconhecermos as diferenças entre os sistemas econômicos de exclusão dos países latino-americanos, estendemos o nosso olhar à necessidade imperiosa de ações que revejam o legado capitalista em nossa história.

Elas se dão na forma de algumas proposições políticas atuais que enfrentam um alto grau de reação por parte da mídia e da inteligentsia brasileira. Convidam a perguntar o que nos faz atores políticos de esquerda em um país como o Brasil, que não empreende medidas rupturais profundas em relação ao seu modelo econômico — e possui sérias limitações internacionais de atuação?

Pensamos que o posicionamento de um cidadão frente a cotas nas universidades públicas, programa Bolsa Família e reforma agrária é um bom indicativo de suas posições políticas: se são de esquerda, ou de direita. Acreditamos que o engajamento de esquerda no Brasil passa (não exclusivamente, mas necessariamente) pelo posicionamento favorável a essas políticas. Ser a favor, nem sempre significa ser 100% a favor. Não esperamos que alguém seja ingênuo para pensar que a política de cotas, o programa Bolsa Família (PBF) e a atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em prol da reforma agrária não sejam passíveis de críticas. Mas essas não podem paralisar um debate maior sobre a brutal desigualdade social brasileira.

A atual política de cotas envolve importantes mudanças políticas rumo à redução de desigualdades históricas. Isso não significa que as cotas irão apagar, como num passe de mágica, os séculos de exploração e injustiças praticadas contra os afro-descendentes brasileiros. Mas representam, sim, um avanço importantíssimo que provoca reações incríveis por parte daqueles que compõem a nossa direita.
Os Diogos Mainardis, alimentos permanentes ao preconceito contra a modesta redistribuição de riqueza

Recorre-se ao conceito de meritocracia para negar a validade da política de cotas. Ora, desde quando a meritocracia reina neste país? Se respondermos positivamente a essa pergunta, seremos forçosamente conduzidos a uma conclusão evidente de que pobres e negros estão na situação vulnerável em que se encontram por sua própria culpa, e que nossas elites trabalharam duro para chegar onde estão – no topo da pirâmide de um país com um dos piores níveis de distribuição de renda do mundo.

Assistimos, espantados, as mais sofisticadas descobertas científicas que revelam a forte carga genética européia contida em nossos negros, que não seriam tão negros quanto pensam e, logo, a política de cotas seria uma fraude. Outros alegam, alarmados, a introdução oficial do racismo no Brasil, a incitação ao ódio inter-racial e outras pérolas. Elas denunciam um mal-estar significativo frente à hipótese de um negro sentar-se ao lado daqueles que julgam ocupar o lugar de núcleo pensante de nossas universidades públicas por conta, única e exclusivamente, de seus méritos.

E a situação poderia ficar pior, caso nossos negros, além de tudo, queiram dar uma outra interpretação à nossa história: não aquela positivista, heróica e branca, em um país cuja dívida com índios, negros, pardos e mulatos ainda precisa ser paga.
Outro argumento contrário à política de cotas baseia-se no entendimento de que deveríamos melhorar a educação de base, para que egressos de escolas públicas e privadas estivessem em nível de igualdade ao fim do Ensino Médio. Certamente essa é uma ótima idéia, mas quantas décadas, ou mesmo séculos, precisaríamos esperar para que pudéssemos presenciar os resultados dessa medida? Esse tipo de proposta parece um típico discurso brasileiro utilizado quando se quer deixar as coisas como estão: alegar a necessidade de algo mais profundo quando se tem a urgência de algo imediato. O resultado final é que, geralmente, nada é feito.

Outro passo coerente é o posicionamento em relação ao Programa Bolsa Família (PBF), que efetua uma transferência direta em favor das famílias em situação de pobreza (com renda mensal por pessoa de R$ 60,01 a R$ 120,00) e extrema pobreza (com renda mensal por pessoa de até R$ 60,00), de acordo com a Lei 10.836, de 9 de janeiro de 2004 e o Decreto nº 5.749, de 11 de abril de 2006. Novamente, nesse caso, assistimos à santa à santa indignação daqueles que afirmam que o ideal seria um programa de geração de empregos. Para eles, o PBF é esmola e estimula a vadiagem de quem, ao invés de produzir, contenta-se com o dinheiro “fácil” recebido mensalmente.

Em um país que ocupa uma posição vergonhosa em termos de distribuição de renda — o décimo mais desigual do mundo — não deveria uma solução dessas ser aplaudida como algo que visa reduzir minimamente a nossa brutal desigualdade, em um arremedo de estado de bem-estar social que nunca tivemos, já que pela percepção da facção radical de nossos representantes liberais, pobre só é pobre porque é vagabundo? Para entender como se processa essa apreensão tão rasteira da realidade, temos as colunas do caricato Diogo Mainardi e seus seguidores, que fornecem dados semanais à ignorância e ao preconceito de nossos conservadores anônimos, ou nem tanto.

Resgate da dignidade dos mais pobres: o que a mídia faz questão de esconder sobre o MST

O Bolsa Família restitui a dignidade de muitas famílias que são beneficiadas pelo programa. Sim, mas existem distorções, dirão alguns, “tem gente que está trabalhando e ainda assim está inscrito no PBF, recebendo regularmente o benefício”. Logo, o programa deve ser extinto. Dentro dessa linha de raciocínio, deveríamos extinguir também o INSS, o SUS, quem sabe até o Congresso Nacional, e todas as instituições passíveis de corrupção nesse país e deixar o incorruptível e isento mercado dar o rumo às nossas vidas – embora os liberais mais esclarecidos já não compactuem com semelhante discurso.

Não ignoramos a urgência de medidas que visem a resolução estrutural de problemas nacionais e que tornariam desnecessário o Bolsa Família, tais como a redução nas taxas de juros, a criação de novos postos de trabalho com o incentivo ao capital produtivo entre outras medidas de médio e longo prazo. Contudo, não são excludentes à aceitação do PBF como uma medida eficaz de redução da desigualdade em curto prazo.
E, finalmente, a reforma agrária e sua expressão maior no país: o MST, que, para alguns (de esquerda), simboliza a luta pela justiça no campo, e para outros (de direita), são os Talibãs tupiniquins, inimigos do agro-business, ameaças à sacra propriedade privada e aos latifúndios formados “meritoriamente” no decorrer de nossa história.

O MST é internacionalmente conhecido e respeitado como o maior e mais organizado movimento pela reforma agrária do mundo. Mas aqui, os sem-terra são demonizados pela grande mídia, que se concentra tão somente no fato de haver ocupações de terra, cuja violência é sempre parte da reação dos fazendeiros na proteção de seus direitos sagrados à terra de que o próprio Deus parece ter-lhes passado a escritura.

Jamais se mostra, em qualquer mídia, o trabalho social engendrado pelo movimento, que ajuda pessoas em estado de miserabilidade total, alcoolistas e candidatos ao lumpensinato, rumo ao pertencimento a um grupo e ao compartilhamento do sonho de uma vida mais digna.

Não se está negando que o MST cometa alguns excessos e que possui falhas – são suficientemente denunciados casos de famílias que ganham terra, vendem e voltam de novo para a fila. Mas como esperar, em um país onde todas as instituições de Estado são falhas, que um movimento social seja perfeito? Nossa situação agrária é herdeira do passado colonial desse país. Nossos latifúndios prosperaram durante séculos com a mão de obra de escravos que foram jogados à margem da sociedade quando da mudança para a mão de obra assalariada e européia (não é difícil perceber a relação entre a luta pela reforma agrária e as políticas de cotas ...).

A essa situação agrária retrógrada e concentradora de renda e a esses latifúndios cuja construção histórica passou longe de qualquer meritocracia, o MST é uma justa resposta. Vem exercendo uma resistência pacífica contra a injusta distribuição de terras, denunciando ao Brasil e ao mundo há décadas que somos um país vergonhosamente desigual.

A díade esquerda/direita está mais viva do que nunca, ainda que exista um imenso esforço rumo a um consenso centrista radical que nega a validade de posicionamentos mais assertivos. Michel Foucault afirmava que “onde há poder, há resistência”. Quanto mais vertical e impermeável se apresenta esse poder, mais se necessitam ações que não obstruam um tensionamento político necessário para que os dados continuem rolando, sob pena de cair no totalitarismo em suas múltiplas formas.

Direitos não são concessões, são conquistas. Talvez atores políticos como Hugo Chavez e Evo Morales e programas de cotas, PBF e reforma agrária nos termos propostos pelo MST não sejam indicados no Canadá, Noruega, Inglaterra e outros países onde o capitalismo se mostra mais domesticado e reformado. Mas dentro da realidade brasileira e latino-americana, essas ações sustentadas pela esquerda e pela maioria de seus apoiadores tornam-se uma real esperança de superação de desigualdades. Para que sejam dispensáveis no futuro, são atualmente imprescindíveis.

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